Monday, June 26, 2006

Private Equity

Artigo sobre fundos de venture capital que saiu hoje (26/06) no Valor Econômico.

Fundos iniciam novo ciclo e preparam captação de R$ 5 bi
Catherine Vieira e Altamiro Silva Júnior
26/06/2006

Os fundos de investimentos em participações (FIPs), também conhecidos como de "private equity" estão começando um novo ciclo de investimentos. Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já foram informados esse ano a criação de pelo menos dez fundos, que somam mais de R$ 5 bilhões em patrimônio, incluindo os que obtiveram dispensa de registro. Entre as novas carteiras, está o fundo Logística Brasil, de R$ 500 milhões, e o AG Angra Infra-estrutura, de R$ 750 milhões. Os números deste ano superam, de longe, os de 2005, quando foram registrados fundos que somavam R$ 2,1 bilhões. Em 2004, foram R$ 1,42 bilhão. A onda de aberturas de capital de empresas na bolsa - iniciada em 2004 e que ganhou força no ano passado e neste primeiro semestre - ajudou, com os sinais positivos dados aos investidores. Nesse período, das 20 ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) do mercado, os fundos de private equity participaram de 13, o que permitiu vislumbrar para os gestores a porta de saída para os investimentos. Entre elas, estão a administradora de cartões CardSystem, a fabricante de cartões e cheques, American BankNote e a empresa de softwares, Totvs. Esta última vai contar seu "case" em evento na quarta-feira, em São Paulo, promovida pela Associação Brasileira de Private Equity (ABVCap). O desinvestimento, aliás, era a grande preocupação dos participantes desse segmento quando iniciou o primeiro ciclo de investimento, no período de 1995 a 1998, avalia Marcus Regueira, o novo presidente da ABVCap. "É mais um ponto positivo para incentivar uma nova rodada de investimentos e a formação de novos fundos", diz. No Brasil, as estimativa são de que os fundos já levantaram mais de US$ 4 bilhões nos últimos 12 meses com ofertas de ações. Um levantamento da Emerging Markets Private Equity Association (Empea), com sede em Washington, mostra que isso é uma tendência entre todos os países emergentes. A entidade estima que os IPOs renderam US$ 21,2 bilhões para os private equity em 2005, o triplo do ano anterior. Além disso, os agentes do mercado conseguiram mais recentemente maturar a nova legislação. Apesar de existirem sob a forma de estruturas "offshore" ou como fundos de empresas emergentes ou mesmo fundos de ações tradicionais, os investimentos em "private equity" no Brasil só ganharam sua formatação própria por meio da Instrução 391, editada por Luiz Leonardo Cantidiano, então presidente da CVM, em julho de 2003. "Houve um período de discussão e preparação nos últimos anos, alguns fundos que estão sendo registrados já vinham sendo discutidos há algum tempo e agora se concretizam", lembra o próprio Cantidiano, agora à frente do escritório Motta, Fernandes Rocha Advogados. "Temos recebido consultas. Muitas empresas perceberam que os concorrentes estão indo a mercado ou a investidores de private equity e estão conseguindo captar e crescer, então isso gera um interesse maior por esses mecanismos", diz. O advogado Antonio Felix de Araujo Cintra, sócio do Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados concorda. Ele acredita inclusive, que a volatilidade e a turbulência que se instalaram no mercado desde maio, atrapalhando as novas ofertas de ações, favorecem, de certa forma, o novo ciclo dos fundos de participação. "Antes, o mercado estava tão propício, que as empresas, independentemente do perfil e de já ter passado antes por um investidor de private equity, já iam direto para o Novo Mercado abrir capital", disse Felix, lembrando que o ciclo mais eficiente para acessar o mercado de capitais é a empresa passar por uma transição preparatória num fundo de participações antes da listagem em bolsa. Neste contexto, a atual queda das bolsas vai ajudar os fundos de private equity, avalia Alvaro Gonçalves, sócio da gestora Stratus Banco de Negócios e ex-presidente da ABVCap. "As empresas vão ter consciência de que precisam se preparar mais e melhor para ir para ao mercado", afirma. E nada melhor que um fundo de private equity para ajudar nessa preparação. "O mercado vai ficar mais seletivo e só empresas bem preparadas terão sucesso", completa. Para Felix, do Tozzini, a turbulência recente não prejudica tanto os FIPs porque o investimento destes fundos é de longo prazo, de 5 a 10 anos. "O importante foi ter a confiança de que há janela de saída, as turbulências são normais, porque janelas de mercado abrem e fecham, o problema do Brasil é que ela fechava demais." De acordo com Luiz Eugênio Figueiredo, diretor da Rio Bravo, um novo ciclo realmente pode estar se desenhando no segmento no Brasil. Ele lembra que antes havia dúvidas sobre o momento do desinvestimento e também houve um período de adaptação à legislação. "Entre montar o fundo, iniciar a captação e adequar os regulamentos era um processo que em muitos casos durou mais de dois anos", observa Figueiredo. As coisas já começam a mudar, avalia. A superintendente de registros em exercício da CVM, Flávia Mouta Fernandes, diz que há mais FIPs chegando à autarquia e que cada vez menos são solicitadas modificações nos regulamentos das carteiras. Para Figueiredo, da Rio Bravo, a tendência é que daqui para frente o processo fique mais ágil. "Há mais disposição dos investidores e já se encontraram caminhos para fazer os regulamentos", diz o executivo, que está montando também um FIP na Rio Bravo voltado para a área de infra-estrutura e logística, que deve captar R$ 250 milhões.

Setores de biotecnologia, varejo e infra-estrutura devem atrair recursos
De São Paulo e do Rio
26/06/2006

A nova rodada de investimentos dos fundos de private equity será mais diversificada que a primeira, avalia Álvaro Gonçalves, sócio do Stratus Banco de Negócios e conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity (ABVCap). "O ciclo anterior ficou muito concentrado em internet e privatizações", diz. Para este novo ciclo, setores como biotecnologia e varejo, além do agronegócio e infraestrutura devem ganhar mais atenção dos gestores que avaliam oportunidades de investimentos. A estimativa é que a infra-estrutura (incluindo a área de logística) fique com a maior parte dos aportes. O Stratus, por exemplo, está lançando um fundo só para o setor de biotecnologia. No agronegócio, a gigante AIG Capital, comprou recentemente uma participação no frigorífico gaúcho Mercosul.

Outra preocupação do setor é mostrar boas empresas brasileiras para os investidores estrangeiros. A ABVCap fará em setembro apresentações para grandes investidores dos Estados Unidos para mostrar oportunidades de investimento no Brasil. Segundo Marcus Regueira, o presidente da ABVCap, apesar do crescimento pífio do PIB brasileiro, há setores da economia e regiões do país com desempenho muito melhor e que são desconhecidos dos estrangeiros. Entre eles, ele cita o setor exportador, tecnológico e o varejo. "Temos setores com crescimento semelhante a China e Índia", afirma. As apresentações nos EUA estão orçadas em R$ 1,8 milhão, dos quais cerca de 40% virão do governo federal. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também está aprimorando suas estatísticas para o setor. A partir do fim deste mês, os FIPs informados à CVM passam a ter todos os dados consolidados e publicados no site da autarquia. Com isso, será possível saber qual o montante total que está hoje alocado nesses fundos. Por enquanto, já se pode ver no site da CVM que há 33 fundos em operação, mas os valores totais ainda não estão consolidados. "Agora, os gestores estão começando a enviar essas informações periódicas e acredito que até o fim do mês isso já estará consolidado e disponível", disse Flavia Fernandes, superintendente de registro em exercício. (ASJ e CV)

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