BankBoston: Fundo Quantitativo
Matéria publicada no Valor Econômico de 23 de Janeiro de 2006.
BankBoston leva modelo quantitativo para o varejo
Angelo Pavini
De São Paulo
A onda dos fundos quantitativos, que usam modelos matemáticos para decidir as aplicações, contagiou a BankBoston Asset Management. A partir de hoje, a gestora passa a oferecer para os clientes de varejo do banco o Boston Expert, uma carteira que buscará ganhos nos mercados de ações e nos futuros de índice, dólar, juros e dívida externa com vários modelos estatísticos. O banco já havia lançado no ano passado um long/short, fundo de arbitragem em ações, outra estratégia que virou mania entre os multimercados em 2005.
Segundo Edinardo Figueiredo, superintendente executivo de produtos de investimentos e seguros do BankBoston, o novo fundo, o terceiro multimercado da casa para o varejo, vai servir para que os investidores diversifiquem melhor suas aplicações. "Notamos que, com o juro caindo e a bolsa subindo, há uma grande procura por diversificação e realocação dos recursos, e maior apetite por risco."
O Expert será um fundo de cotas que aplicará no Boston Eagle Quant, destinado aos clientes de alta renda do private do banco. A gestora criou em setembro uma equipe apenas para cuidar dessa estratégia, com um diretor, dois analistas e dois estagiários. "É a maior equipe quantitativa do mercado", diz Charles Ferraz, superintendente executivo da asset. A aplicação mínima do Expert é de R$ 10 mil e a taxa de administração é de 1% ao ano mais 40% sobre o que superar o CDI - o objetivo do fundo é render 110% do referencial. Hoje, o BankBoston oferece para os clientes de varejo e private um multimercado tradicional, com patrimônio de R$ 1,6 bilhão, um long/short, que já está prestes a fechar para captação, com R$ 200 milhões, e agora um quantitativo, com R$ 130 milhões só no private.
Ferraz explica que o Expert vai ser um fundo quantitativo puro, diferentemente de outros que usam a estratégia apenas como ferramenta de apoio a decisões tomadas com base em análises macroeconômicas ou fundamentalista. O segredo, diz, é a qualidade do modelo matemático, desenvolvido pelo gestor para encontrar as oportunidades em cada mercado. "Testamos as estratégias à exaustão e estamos confiantes que o fundo será um sucesso", diz Ferraz, lembrando que o fundo Eagle superou o CDI nos últimos dois anos.
O Expert terá várias estratégias, como "trend following" - que segue tendências de cada mercado. Outra estuda o comportamento dos mercados em cada período do ano para definir momentos de aplicação. Apesar da sofisticação, o fundo deve ter baixa volatilidade, em torno de 1% ao ano.
Monday, January 23, 2006
Link em Private Banking
Matéria publicada no Valor Econômico de 23 de Janeiro de 2006.
Link cria área para atender os clientes de alta renda
Por Daniele Camba
De São Paulo
A Link, corretora que tem como sócios Daniel e Marcelo Mendonça de Barros - filhos do ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros -, está colocando um pé no segmento de pessoas físicas de alta renda na Bovespa. Para isso, acaba de criar uma área private, que vai atender investidores abonados, com patrimônio a partir de R$ 1 milhão.
O objetivo é oferecer assessoria de investimento a esses clientes que, apesar de abastados, ainda estão num nível de riqueza considerado baixo pelos grandes bancos, por isso são mal atendidos pelas áreas private, diz Marcos Elias, um dos sócios da corretora.
"Os clientes com R$ 20 milhões, por exemplo, são o foco dos bancos, enquanto os menores são relegados a segundo plano", diz Elias. O projeto, segundo Daniel Mendonça de Barros, é atender também o investidor de menor porte, mas antes a corretora terá de investir pesado em tecnologia, condição primordial para crescer em escala, que é a fórmula do sucesso no atendimento à pessoa física.
Na parte de gestão de recursos, num primeiro momento, a corretora deve oferecer os fundos da Quest Investimentos, que é a gestora ligada ao grupo e tem como principal sócio e estrategista o próprio Luiz Carlos Mendonça de Barros. O projeto, no entanto, é oferecer fundos também de outras assets, assim que a nova área tiver massa crítica de clientes.
A corretora começou a atender pessoas físicas há dois meses e já conta com 50 clientes. Até então, a Link atendia de forma informal apenas os clientes pessoa física que estão por trás dos seus investidores institucionais na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A meta inicial é ter uma carteira com pelo menos 500 clientes.
A participação desses negócios com o investidor pessoa física na receita da corretora pulou de 2% para 5%. E isso é só o começo. Para Norberto Giangrande sócio da Link, com o interesse crescente dos brasileiros em investir em bolsa e a carência que possuem de um atendimento personalizado, essa área tem potencial para representar até mais da metade da receita da corretora. "A nossa área private pode se tornar conhecida por ser uma das únicas especializada em bolsa", diz Giangrande.
Apesar da criação de uma área private, a grande aposta da corretora ainda são os clientes institucionais da BM&F. Apesar de nova, se comparada a algumas que estão no mercado há décadas, a Link está entre as mais ativas. Ela estreou na BM&F em 1998 e, desde 2002, é líder do ranking em termos de volume de negócios.
Na Bovespa, a entrada é mais recente. Primeiro comprou um título da Bolsa de Santos, o que lhe permitia operar na Bovespa via outra corretora. No entanto, percebendo a recuperação no volume de negócios, em junho de 2004 comprou os títulos da bolsa paulista e passou a operar sozinha. Em 2005, montou uma área de análise de renda variável.
Matéria publicada no Valor Econômico de 23 de Janeiro de 2006.
Link cria área para atender os clientes de alta renda
Por Daniele Camba
De São Paulo
A Link, corretora que tem como sócios Daniel e Marcelo Mendonça de Barros - filhos do ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros -, está colocando um pé no segmento de pessoas físicas de alta renda na Bovespa. Para isso, acaba de criar uma área private, que vai atender investidores abonados, com patrimônio a partir de R$ 1 milhão.
O objetivo é oferecer assessoria de investimento a esses clientes que, apesar de abastados, ainda estão num nível de riqueza considerado baixo pelos grandes bancos, por isso são mal atendidos pelas áreas private, diz Marcos Elias, um dos sócios da corretora.
"Os clientes com R$ 20 milhões, por exemplo, são o foco dos bancos, enquanto os menores são relegados a segundo plano", diz Elias. O projeto, segundo Daniel Mendonça de Barros, é atender também o investidor de menor porte, mas antes a corretora terá de investir pesado em tecnologia, condição primordial para crescer em escala, que é a fórmula do sucesso no atendimento à pessoa física.
Na parte de gestão de recursos, num primeiro momento, a corretora deve oferecer os fundos da Quest Investimentos, que é a gestora ligada ao grupo e tem como principal sócio e estrategista o próprio Luiz Carlos Mendonça de Barros. O projeto, no entanto, é oferecer fundos também de outras assets, assim que a nova área tiver massa crítica de clientes.
A corretora começou a atender pessoas físicas há dois meses e já conta com 50 clientes. Até então, a Link atendia de forma informal apenas os clientes pessoa física que estão por trás dos seus investidores institucionais na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A meta inicial é ter uma carteira com pelo menos 500 clientes.
A participação desses negócios com o investidor pessoa física na receita da corretora pulou de 2% para 5%. E isso é só o começo. Para Norberto Giangrande sócio da Link, com o interesse crescente dos brasileiros em investir em bolsa e a carência que possuem de um atendimento personalizado, essa área tem potencial para representar até mais da metade da receita da corretora. "A nossa área private pode se tornar conhecida por ser uma das únicas especializada em bolsa", diz Giangrande.
Apesar da criação de uma área private, a grande aposta da corretora ainda são os clientes institucionais da BM&F. Apesar de nova, se comparada a algumas que estão no mercado há décadas, a Link está entre as mais ativas. Ela estreou na BM&F em 1998 e, desde 2002, é líder do ranking em termos de volume de negócios.
Na Bovespa, a entrada é mais recente. Primeiro comprou um título da Bolsa de Santos, o que lhe permitia operar na Bovespa via outra corretora. No entanto, percebendo a recuperação no volume de negócios, em junho de 2004 comprou os títulos da bolsa paulista e passou a operar sozinha. Em 2005, montou uma área de análise de renda variável.
Indústria de Fundos : Crescimento?
Matéria publicada no Valor Econômico de 23 de Janeiro de 2006.
Crescimento ilusório
Por Danilo Fariello e Daniele Camba
De São Paulo
Quem olha o tamanho do setor de fundos de investimentos no Brasil, hoje com cerca de R$ 700 bilhões, acha que ele vai de vento em popa. Mas, observando com cuidado, a história é bem diferente. Excluídos os fundos de previdência, o setor registrou mais saques do que aportes de 2001 até o ano passado. Levantamento feito pelo site financeiro Fortuna a pedido do Valor mostra que, nos últimos cinco anos, os fundos tiveram perda líquida (resgates menos aplicações) média de 1,8% do patrimônio total ao ano. Em 2001, o segmento tinha R$ 268 bilhões de patrimônio e fechou 2005 com R$ 583 bilhões. Esse crescimento é resultado principalmente da rentabilidade. Se dependesse unicamente das aplicações novas, o patrimônio chegaria em 2005 com R$ 20 bilhões a menos do que tinha no começo. O levantamento exclui fundos de previdência, que trilharam caminho contrário.
Em apenas dois dos últimos cinco anos houve captação líquida nos fundos de investimento. E o maior avanço, em 2003 - com captação de 16,1% -, foi mais uma recuperação do tombo que o setor tomou em 2002, com a crise da marcação a mercado. No ano passado, o segmento cresceu apenas 2,8%, graças principalmente aos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). "Se não fosse isso, provavelmente os saques continuariam a superar os depósitos ou, no máximo, o setor ficaria no zero a zero", diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.
Para D'Agosto, os fundos ainda não atingiram camadas mais populares de investidores, que temem a complexa estrutura do mercado. Ele diz, ainda, que o acesso aos fundos é muito restrito, principalmente pela falta de informações disponíveis.
Marcelo Bonini, Diretor de Ativos de Terceiros da Caixa Econômica Federal, diz que o setor está perfeitamente estruturado, mas questões culturais ainda impedem a expansão das aplicações. Para ele, os gestores são altamente qualificados, os produtos são diversificados e a regulação adequada. "Porém, investidores ainda têm dificuldades em escolher fundos, e gerentes muitas vezes têm medo em oferecer algo que não compreendem totalmente." A recente mudança da tributação das carteiras, por exemplo, lançou mais uma incógnita nessa complexa equação, diz.
Maria Cecilia Rossi, sócia da Inter-link Consultoria de Mercado de Capitais e ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diz que seria preciso oferecer mais educação financeira aos investidores para que entendam as vantagens dos fundos. Sérgio de Oliveira, diretor-executivo do Bradesco e vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), reconhece que falta ainda melhor capacitação dos profissionais que distribuem os fundos para apresentar os produtos de maneira mais eficiente aos investidores. "Mas isso tem melhorado."
No topo da pirâmide, ou seja, entre os investidores de maior renda, houve também motivos para os fundos perderem atratividade. Maria Cecília, da Inter-link, diz que a criação da conta-investimento, que isenta da CPMF movimentações entre diferentes aplicações, diminuiu a importância dos fundos exclusivos, que eram procurados principalmente para esse fim.
Um fator regulatório também diminuiu o apetite dos gestores para buscar cotistas. Maria Cecilia diz que o maior rigor da CVM na regulação dos fundos, apesar de oferecer mais transparência, acabou implicando custos mais elevados para administradores. "O preço de manter um fundo subiu e reduziu a competição no mercado."
Em 2002, a perda líquida foi a mais dramática, chegando a 21,1%. O motivo foi a marcação a mercado, uma regra do Banco Central que determinou que todos os fundos registrassem os papéis que possuíam pelo valor corrente, como se fossem vendê-los naquele dia. Uma parte dos gestores não fazia isso. Naquele momento, com a eleição presidencial conturbada, os papéis apresentavam forte volatilidade e a mudança acabou por provocar perdas nas cotas de fundos. Muitas carteiras de renda fixa e DI registraram perdas surpreendentes para seus cotistas.
Esse evento mostrou ao investidor que ele pode perder dinheiro até nos fundos mais conservadores. A volatilidade das cotas provocou uma onda de saques. Para André Luiz Oda, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) muitos investidores migraram dos fundos para a caderneta de poupança ou para os CDBs e não voltaram mais.
O recolhimento do imposto de renda (IR) sobre os ganhos semestralmente, (conhecido como "come-cotas") também garfa um bom pedaço dos recursos, aparecendo como saques na conta da captação líquida. A tributação teria tirado dos fundos cerca de R$ 50 bilhões nesses cinco anos, estima o também vice-presidente da Anbid, Marcelo Giufrida. "Se olharmos por esse prisma, o setor teve captação líquida de R$ 30 bilhões e não perdas de R$ 20 bilhões." Mas ele reconhece que houve recuo nas aplicações em relação aos anos 90. Nos últimos cinco anos, além da previdência, Giufrida lembra que houve a concorrência dos CDBs, que deixaram de pagar CPMF na reaplicação, com a conta-investimento, não têm come-cotas nem taxa de administração.
Oliveira, do Bradesco, diz que, apesar de ter a captação reduzida, a importância dos fundos cresceu nos últimos anos para 40% do Produto Interno Bruto (PIB). "Além disso, os fundos abrigam mais de 60% das aplicações financeiras."
Gestores acreditam que a queda dos juros trará um futuro melhor, já que o investidor deverá ter um apetite maior por risco em busca de ganhos melhores do que em CDBs ou fundos de renda fixa. "Veremos uma onda de aplicações em carteiras como multimercados e fundos de ações", diz o professor do IBMEC-SP e sócio da ForeSee Investimentos, João Luiz Mascolo.
Previdência privada rouba recursos das demais carteiras
De São Paulo
O desenvolvimento da previdência privada, que ganhou força ao longo dos últimos cinco anos, fez com que muitos investidores transferissem recursos dos fundos regulares para carteiras voltadas à aposentadoria do tipo PGBL, VGBL e Fapi. A análise do site Fortuna, que leva em conta esses planos de previdência, indica que, nesse período, a captação líquida do segmento foi de R$ 32 bilhões, enquanto os demais tipos de fundos perderam R$ 20 bilhões nessa mesma conta.
Entre 2001 e 2002, os planos de previdência praticamente dobraram de tamanho, impulsionados por novos aportes. Nos últimos dois anos, entretanto, esse crescimento no volume de recursos captados caiu, mas em 2005 as contribuições no segmento ainda avançaram, proporcionalmente, dez vezes mais do que os depósitos dos fundos em geral.
A arrancada na captação da previdência privada em relação ao seu patrimônio justifica-se principalmente por se tratar de um mercado recente, que começou a se formar em 1998 e suas regras evoluíram bastante ao longo dos anos. Novidades trazidas como benefícios tributários - ampliados no ano passado com a criação da tabela regressiva, que pode reduzir o imposto para 10% independente do valor aplicado - e possibilidade de aquisição de renda mensal no futuro encantaram investidores que visam retorno em prazos mais longos.
Maria Cecilia Rossi, sócia da Inter-link Consultoria de Mercado de Capitais e ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acredita que a previdência privada roubou recursos dos demais fundos. São produtos mais adequados a muitos que antes ficavam em fundos regulares por falta de opção melhor. A tributação na previdência beneficia o investimento de longo prazo. "A possibilidade de abatimento do imposto de renda também é uma vantagem que atraiu muitos investidores", diz Maria Cecilia.
Além disso, ela diz que, no período, houve maior esforço dos bancos e seguradoras em treinar pessoas para distribuir produtos de previdência do que normalmente ocorre com os fundos de investimento. O diretor-executivo do Bradesco, Sérgio de Oliveira, afirma que muitos aplicadores transferiram investimentos de longo prazo para a previdência. O Bradesco é o segundo maior gestor de recursos do país e sua seguradora é líder no setor de previdência privada.
E esse crescimento estaria apenas no começo. As perspectivas de uma expansão econômica maior nos próximos anos e a possível reforma da previdência são dois fatores que devem impulsionar ainda mais a captação da previdência privada, avalia o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Marcelo Giufrida.
Ele lembra que esse crescimento das carteiras de previdência é natural de um mercado iniciante. O mesmo aconteceu no setor de fundos de investimento na década de 90 com os DI, renda fixa, multimercados. Agora, esses fundos encontram-se numa fase de consolidação.
O crescimento da previdência privada é um resultado da situação econômica, na visão do professor do IBMEC-SP e sócio da ForeSee Investimentos, João Luiz Mascolo. "Num país em que 40% dos brasileiros vivem do trabalho informal, não poderia ser diferente", avalia. "Essas pessoas precisam sozinhas garantir sua aposentadoria, já que não poderão contar com o governo."(DF e DC)
Matéria publicada no Valor Econômico de 23 de Janeiro de 2006.
Crescimento ilusório
Por Danilo Fariello e Daniele Camba
De São Paulo
Quem olha o tamanho do setor de fundos de investimentos no Brasil, hoje com cerca de R$ 700 bilhões, acha que ele vai de vento em popa. Mas, observando com cuidado, a história é bem diferente. Excluídos os fundos de previdência, o setor registrou mais saques do que aportes de 2001 até o ano passado. Levantamento feito pelo site financeiro Fortuna a pedido do Valor mostra que, nos últimos cinco anos, os fundos tiveram perda líquida (resgates menos aplicações) média de 1,8% do patrimônio total ao ano. Em 2001, o segmento tinha R$ 268 bilhões de patrimônio e fechou 2005 com R$ 583 bilhões. Esse crescimento é resultado principalmente da rentabilidade. Se dependesse unicamente das aplicações novas, o patrimônio chegaria em 2005 com R$ 20 bilhões a menos do que tinha no começo. O levantamento exclui fundos de previdência, que trilharam caminho contrário.
Em apenas dois dos últimos cinco anos houve captação líquida nos fundos de investimento. E o maior avanço, em 2003 - com captação de 16,1% -, foi mais uma recuperação do tombo que o setor tomou em 2002, com a crise da marcação a mercado. No ano passado, o segmento cresceu apenas 2,8%, graças principalmente aos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). "Se não fosse isso, provavelmente os saques continuariam a superar os depósitos ou, no máximo, o setor ficaria no zero a zero", diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.
Para D'Agosto, os fundos ainda não atingiram camadas mais populares de investidores, que temem a complexa estrutura do mercado. Ele diz, ainda, que o acesso aos fundos é muito restrito, principalmente pela falta de informações disponíveis.
Marcelo Bonini, Diretor de Ativos de Terceiros da Caixa Econômica Federal, diz que o setor está perfeitamente estruturado, mas questões culturais ainda impedem a expansão das aplicações. Para ele, os gestores são altamente qualificados, os produtos são diversificados e a regulação adequada. "Porém, investidores ainda têm dificuldades em escolher fundos, e gerentes muitas vezes têm medo em oferecer algo que não compreendem totalmente." A recente mudança da tributação das carteiras, por exemplo, lançou mais uma incógnita nessa complexa equação, diz.
Maria Cecilia Rossi, sócia da Inter-link Consultoria de Mercado de Capitais e ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diz que seria preciso oferecer mais educação financeira aos investidores para que entendam as vantagens dos fundos. Sérgio de Oliveira, diretor-executivo do Bradesco e vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), reconhece que falta ainda melhor capacitação dos profissionais que distribuem os fundos para apresentar os produtos de maneira mais eficiente aos investidores. "Mas isso tem melhorado."
No topo da pirâmide, ou seja, entre os investidores de maior renda, houve também motivos para os fundos perderem atratividade. Maria Cecília, da Inter-link, diz que a criação da conta-investimento, que isenta da CPMF movimentações entre diferentes aplicações, diminuiu a importância dos fundos exclusivos, que eram procurados principalmente para esse fim.
Um fator regulatório também diminuiu o apetite dos gestores para buscar cotistas. Maria Cecilia diz que o maior rigor da CVM na regulação dos fundos, apesar de oferecer mais transparência, acabou implicando custos mais elevados para administradores. "O preço de manter um fundo subiu e reduziu a competição no mercado."
Em 2002, a perda líquida foi a mais dramática, chegando a 21,1%. O motivo foi a marcação a mercado, uma regra do Banco Central que determinou que todos os fundos registrassem os papéis que possuíam pelo valor corrente, como se fossem vendê-los naquele dia. Uma parte dos gestores não fazia isso. Naquele momento, com a eleição presidencial conturbada, os papéis apresentavam forte volatilidade e a mudança acabou por provocar perdas nas cotas de fundos. Muitas carteiras de renda fixa e DI registraram perdas surpreendentes para seus cotistas.
Esse evento mostrou ao investidor que ele pode perder dinheiro até nos fundos mais conservadores. A volatilidade das cotas provocou uma onda de saques. Para André Luiz Oda, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) muitos investidores migraram dos fundos para a caderneta de poupança ou para os CDBs e não voltaram mais.
O recolhimento do imposto de renda (IR) sobre os ganhos semestralmente, (conhecido como "come-cotas") também garfa um bom pedaço dos recursos, aparecendo como saques na conta da captação líquida. A tributação teria tirado dos fundos cerca de R$ 50 bilhões nesses cinco anos, estima o também vice-presidente da Anbid, Marcelo Giufrida. "Se olharmos por esse prisma, o setor teve captação líquida de R$ 30 bilhões e não perdas de R$ 20 bilhões." Mas ele reconhece que houve recuo nas aplicações em relação aos anos 90. Nos últimos cinco anos, além da previdência, Giufrida lembra que houve a concorrência dos CDBs, que deixaram de pagar CPMF na reaplicação, com a conta-investimento, não têm come-cotas nem taxa de administração.
Oliveira, do Bradesco, diz que, apesar de ter a captação reduzida, a importância dos fundos cresceu nos últimos anos para 40% do Produto Interno Bruto (PIB). "Além disso, os fundos abrigam mais de 60% das aplicações financeiras."
Gestores acreditam que a queda dos juros trará um futuro melhor, já que o investidor deverá ter um apetite maior por risco em busca de ganhos melhores do que em CDBs ou fundos de renda fixa. "Veremos uma onda de aplicações em carteiras como multimercados e fundos de ações", diz o professor do IBMEC-SP e sócio da ForeSee Investimentos, João Luiz Mascolo.
Previdência privada rouba recursos das demais carteiras
De São Paulo
O desenvolvimento da previdência privada, que ganhou força ao longo dos últimos cinco anos, fez com que muitos investidores transferissem recursos dos fundos regulares para carteiras voltadas à aposentadoria do tipo PGBL, VGBL e Fapi. A análise do site Fortuna, que leva em conta esses planos de previdência, indica que, nesse período, a captação líquida do segmento foi de R$ 32 bilhões, enquanto os demais tipos de fundos perderam R$ 20 bilhões nessa mesma conta.
Entre 2001 e 2002, os planos de previdência praticamente dobraram de tamanho, impulsionados por novos aportes. Nos últimos dois anos, entretanto, esse crescimento no volume de recursos captados caiu, mas em 2005 as contribuições no segmento ainda avançaram, proporcionalmente, dez vezes mais do que os depósitos dos fundos em geral.
A arrancada na captação da previdência privada em relação ao seu patrimônio justifica-se principalmente por se tratar de um mercado recente, que começou a se formar em 1998 e suas regras evoluíram bastante ao longo dos anos. Novidades trazidas como benefícios tributários - ampliados no ano passado com a criação da tabela regressiva, que pode reduzir o imposto para 10% independente do valor aplicado - e possibilidade de aquisição de renda mensal no futuro encantaram investidores que visam retorno em prazos mais longos.
Maria Cecilia Rossi, sócia da Inter-link Consultoria de Mercado de Capitais e ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acredita que a previdência privada roubou recursos dos demais fundos. São produtos mais adequados a muitos que antes ficavam em fundos regulares por falta de opção melhor. A tributação na previdência beneficia o investimento de longo prazo. "A possibilidade de abatimento do imposto de renda também é uma vantagem que atraiu muitos investidores", diz Maria Cecilia.
Além disso, ela diz que, no período, houve maior esforço dos bancos e seguradoras em treinar pessoas para distribuir produtos de previdência do que normalmente ocorre com os fundos de investimento. O diretor-executivo do Bradesco, Sérgio de Oliveira, afirma que muitos aplicadores transferiram investimentos de longo prazo para a previdência. O Bradesco é o segundo maior gestor de recursos do país e sua seguradora é líder no setor de previdência privada.
E esse crescimento estaria apenas no começo. As perspectivas de uma expansão econômica maior nos próximos anos e a possível reforma da previdência são dois fatores que devem impulsionar ainda mais a captação da previdência privada, avalia o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Marcelo Giufrida.
Ele lembra que esse crescimento das carteiras de previdência é natural de um mercado iniciante. O mesmo aconteceu no setor de fundos de investimento na década de 90 com os DI, renda fixa, multimercados. Agora, esses fundos encontram-se numa fase de consolidação.
O crescimento da previdência privada é um resultado da situação econômica, na visão do professor do IBMEC-SP e sócio da ForeSee Investimentos, João Luiz Mascolo. "Num país em que 40% dos brasileiros vivem do trabalho informal, não poderia ser diferente", avalia. "Essas pessoas precisam sozinhas garantir sua aposentadoria, já que não poderão contar com o governo."(DF e DC)
Wednesday, January 18, 2006
Entrevista com ABN Amro Asset
Matéria publicada no Valor Econômico de 18/01/06.
ABN promete incomodar os concorrentes
Por Daniele Camba De São Paulo
Foto: Fabiano Cerchiari/Valor
Juros em queda, inflação controlada, aceleração do crescimento e fluxo de capital estrangeiro são ingredientes que devem fazer o Índice Bovespa chegar ao fim do ano em 45 mil pontos. Para Paulo Werneck, da ABN Amro Asset Management, esta pode ser a hora certa dos bancos, aos poucos, começarem a oferecer fundos de ações aos clientes de varejo, o que hoje acontece de forma incipiente.
Werneck é hoje o principal executivo da ABN Asset, no lugar de Luiz Maia, que passa a ser consultor para assuntos de sustentabilidade do banco. Com novos tipos de fundos, o executivo promete incomodar os concorrentes e quer transformar a gestora do ABN, hoje na 8ª posição, com R$ 31,7 bilhões, na 5ª maior administradora de recursos do país, atrás apenas da BB DTVM, Itaú, Bradesco e CEF.
Werneck tem uma grande responsabilidade, já que a asset brasileira foi considerada pelo grupo holandês a mais importante entre todos os emergentes neste ano. Hoje, a gestora representa 6% dos 173 bilhões de euros administrados pelo banco no mundo.
Com 22 anos de mercado, o executivo passou pelo Citibank, Rabobank e os últimos sete como executivo do ABN. Também teve uma rápida passagem pelo governo federal, trabalhando na equipe econômica do Ministério da Fazenda entre 1998 e 1999. A seguir, os principais trechos da entrevista que Werneck concedeu com exclusividade ao Valor.
Valor: Há um consenso de que a bolsa será um bom investimento este ano. O que o senhor acha?
Paulo Werneck: Temos projeção do Ibovespa em 45 mil pontos para o fim do ano, calcada em redução de taxa de juros, inflação sob controle e crescimento maior. O cenário é bastante bom. O crescimento mundial será o mesmo do ano passado. Os Estados Unidos aceleram um pouco e Europa fica igual, além da China, que já vem puxando a economia. Isso beneficia as commodities.
Valor: Quais os melhores setores da bolsa neste ano?
Werneck: Comprando Brasil com outros países, tem alguns setores muito bons, como petroquímico, mineração e siderurgia.
Valor: O estrangeiro vem impulsionando a alta da bolsa. Esse fluxo deve continuar?
Werneck: Sim. Em termos de taxa de retorno, o Brasil continua sendo muito atraente. Comparando com Turquia, Leste Europeu e Polônia, o Brasil é o que dá mais tranqüilidade de investir, com um arcabouço institucional que funciona, com um processo democrático tranqüilo. Além disso, onde o estrangeiro vai buscar retornos tão altos? O Brasil tem a melhor relação custo/benefício. O fluxo do câmbio financeiro está explodindo. Se não fosse o Banco Central comprando, o dólar estaria abaixo de R$ 2,00.
Valor: A eleição presidencial deve trazer volatilidade?
Werneck: Num primeiro instante, não teremos volatilidade grande, mas ela deve se acentuar quando tivermos uma definição de quem são os candidatos a presidente e quais os seus planos. Eles começam a ficar mais incisivos em seus discursos, isso acirra a disputa e, por isso, aumenta a volatilidade. Provavelmente não teremos mais um discurso radical destoando dos outros, algo que já aconteceu.
Valor: Com essas projeções tão otimistas para bolsa, o senhor acha que já é momento de oferecer fundos de ações aos clientes de varejo?
Werneck: A Bovespa está fazendo um trabalho interessante, levando informação sobre ações para as pessoas. Isso é importante porque o investidor precisa ter a cultura de investir em bolsa, principalmente o cliente do varejo. A taxa de juros sempre foi alta no Brasil, continua alta, mas à medida que ela for caindo, o apetite por risco aumenta. E não é só isso. Com a queda dos juros, o horizonte de aplicação fica mais longo e a bolsa entra no radar. Mas o investidor precisa entender que é uma aplicação mais arriscada. Hoje, oferecer fundos com gestão ativa de bolsa no varejo é um pouco prematuro.
Valor: Por quê?
Werneck: Porque esse cliente ainda não tem a cultura de bolsa. Um fundo ativo significa que ele pode ter um desempenho diferente do Ibovespa, por exemplo, e o grande público ainda não consegue entender isso. O investidor vê no jornal que Ibovespa subiu 5% e o seu fundo caiu 1%. Ele não consegue entender que o fundo pode ter composição diferente do índice.
Valor: E os fundos passivos, já daria para vendê-los no varejo? A venda não é muito tímida hoje?
Werneck: Para fundos passivos já tem espaço sim. E você tem razão, essa venda no varejo é muito tímida comparada com outros países. Isso vai mudar, mas leva algum tempo. Tem de criar a cultura de bolsa primeiro. É passo a passo. Primeiro o investidor entende o risco de bolsa. Num segundo momento, aplica em fundos passivos e depois entra em carteiras ativas. Para a grande maioria, bolsa ainda é algo muito especulativo. E não é. É baseado em análises fundamentalistas, de longo prazo e eles não têm essa visão.
Valor: E quando o investidor estará pronto para entrar em bolsa?
Werneck: Quando a taxa de juros chegar num nível mais baixo. Esse é o grande empurrão para o cliente entrar em bolsa. Horizonte de mais longo de investimento e taxa de juros caindo é o caminho para desenvolvimento do mercado de capitais. O apetite por risco já está começando. Primeiro vem do investidor mais qualificado - o institucional, o do private -, depois bate no varejo.
Valor: Quanto do patrimônio da ABN Asset está em renda variável?
Werneck: Em torno de 8% do patrimônio total. Muito menos que os 47% que representa dentro dos 173 bilhões de euros administrados pelo ABN no mundo.
Valor: Até onde o senhor acha que esse percentual pode subir?
Werneck: Isso é difícil de saber. Nos EUA e na Europa, por exemplo, a representatividade do mercado de ações é muito maior que o de renda fixa. É o contrário do que ocorre no Brasil. A proporção não é igual (90% ações e 10% renda fixa). O mercado acionário é bem maior. No Brasil, há uma série de melhorias estruturais para serem feitas, mas muita coisa já evoluiu, estamos no caminho certo.
Valor: Além da bolsa, que outros ativos são atrativos?
Werneck: O momento ainda é bom para aplicar em juros, mas teremos uma redução expressiva na taxa, vendo a Selic chegar no fim do ano em 15%. Isso representa juros reais de 10%. O mínimo que o Brasil teve foi 8,5%. Atingindo esse nível ou mais baixo, será ainda mais atraente estar em bolsa, porque teremos mais crescimento econômico. Neste momento, não vejo nada melhor que a bolsa.
Valor: O dólar deve continuar depreciado frente ao real?
Werneck: Estamos vendo o dólar estável este ano fechando em algo como R$ 2,25 ou R$ 2,30. Com a produção destinada ao mercado interno subindo, sustentada pelo consumo local, as exportações caem e o BC pode tirar um pouco o pé das compras de dólar, mas a oscilação será pequena. Não vale a pena como investimento, principalmente comparado com o custo de oportunidade da taxa de juros.
Valor: Os fundos para investidores institucionais possuem taxas de administração bastante baixas, enquanto que no varejo as taxas ainda são altas. Por que isso acontece?
Werneck: Não concordo. Alguns produtos de renda fixa padronizados já estão com taxas bem baixas. Existem fundos DI com taxas entre 0,60% e 1% ao ano. O conceito de alta ou baixa depende do tipo de fundo. Se a finalidade é apenas comprar títulos públicos dá para ser mais condescendente na taxa. Já os fundos que compram títulos de dívida privada, que estão crescendo, exigem uma análise de crédito.
Valor: Com base no ranking global de administradores de recursos da Anbid, de novembro, o ABN está em oitavo lugar com R$ 31,7 bilhões sob administração. Quais os planos do senhor para subir no ranking?
Werneck: Eu divido o ranking em três grandes pedaços: o primeiro, o segundo e o terceiro lugares (BB DTVM, Itaú e Bradesco) são difíceis de competir. Só é possível alcançá-los via uma aquisição. O segundo grupo é o das assets entre R$ 30 bilhões, no qual estamos, e as outras abaixo disso. Estamos brigando nesse bolo dos R$ 30 bilhões. Nesse grupo, a diferença entre as assets é entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. É nisso que o cliente institucional faz a diferença. O crescimento no varejo é no longo prazo. Já no institucional, um cliente a mais pode representar mais R$ 1 bilhão. Queremos incomodar nossos concorrentes, sem sombra de dúvida.
Valor: Como?
Werneck: Com novos produtos, tanto para o varejo quando para os institucionais. Estamos apostando bastante nisso. A minha idéia é encabeçar essa lista dos R$ 30 bilhões, estando logo em seguida da CEF, que está em quarto lugar. Com a presença do ABN no mundo, temos a possibilidade de transferência de conhecimentos. Pretendemos usar a experiência de países desenvolvidos para vermos como se aplica aqui.
Valor: Existe demanda para novos tipos de investimentos?
Werneck: Sim. O setor ainda está muito concentrado em DI pela própria característica do mercado. Com a queda dos juros, o investidor certamente terá mais interesse por outros fundos. A asset que largar na frente vai ganhar mercado.
Valor: Também há espaço para outros tipos de ativos dentro das carteiras dos fundos?
Werneck: Há espaço para usar mais commodities, por exemplo. Os fundos brasileiros usam só câmbio, juros e bolsa. Mesmo nos multimercados, ganha aquele gestor que tem a melhor capacidade apenas de negociar melhor os três mercados. Ninguém entra em outros ativos. A necessidade de oferecer bons retornos vai forçar os gestores a buscar alternativas. Estamos vendo o crescimento no número de fundos imobiliários, os CRIs, até mesmo títulos de dívida corporativa e os seus derivativos.
Valor: O principal executivo da asset no mundo, Frank Kusse, disse ao Valor recentemente que o Brasil era o principal país emergente na área de administração de recursos do ABN. No entanto, o país não tem dado o retorno esperado. Como isso pode mudar?
Werneck: Quando ele disse isso, tinha acabado de assumir o Brasil sem entender bem que a dinâmica do mercado brasileiro é muito diferente dos mercados desenvolvidos em que a arquitetura aberta, por exemplo, já é algo estabelecido. Enquanto no Brasil isso existe apenas para o private. Também há uma grande diferença entre o peso da renda variável no Brasil e em outros países. Hoje, a opinião dele já é diferente. O Brasil tem uma participação expressiva no resultado global da asset. Todas as metas dos últimos anos foram cumpridas. Em termos de receita/despesa, o Brasil tem uma relação compatível com a dos melhores países.
Matéria publicada no Valor Econômico de 18/01/06.
ABN promete incomodar os concorrentes
Por Daniele Camba De São Paulo
Foto: Fabiano Cerchiari/Valor
Juros em queda, inflação controlada, aceleração do crescimento e fluxo de capital estrangeiro são ingredientes que devem fazer o Índice Bovespa chegar ao fim do ano em 45 mil pontos. Para Paulo Werneck, da ABN Amro Asset Management, esta pode ser a hora certa dos bancos, aos poucos, começarem a oferecer fundos de ações aos clientes de varejo, o que hoje acontece de forma incipiente.
Werneck é hoje o principal executivo da ABN Asset, no lugar de Luiz Maia, que passa a ser consultor para assuntos de sustentabilidade do banco. Com novos tipos de fundos, o executivo promete incomodar os concorrentes e quer transformar a gestora do ABN, hoje na 8ª posição, com R$ 31,7 bilhões, na 5ª maior administradora de recursos do país, atrás apenas da BB DTVM, Itaú, Bradesco e CEF.
Werneck tem uma grande responsabilidade, já que a asset brasileira foi considerada pelo grupo holandês a mais importante entre todos os emergentes neste ano. Hoje, a gestora representa 6% dos 173 bilhões de euros administrados pelo banco no mundo.
Com 22 anos de mercado, o executivo passou pelo Citibank, Rabobank e os últimos sete como executivo do ABN. Também teve uma rápida passagem pelo governo federal, trabalhando na equipe econômica do Ministério da Fazenda entre 1998 e 1999. A seguir, os principais trechos da entrevista que Werneck concedeu com exclusividade ao Valor.
Valor: Há um consenso de que a bolsa será um bom investimento este ano. O que o senhor acha?
Paulo Werneck: Temos projeção do Ibovespa em 45 mil pontos para o fim do ano, calcada em redução de taxa de juros, inflação sob controle e crescimento maior. O cenário é bastante bom. O crescimento mundial será o mesmo do ano passado. Os Estados Unidos aceleram um pouco e Europa fica igual, além da China, que já vem puxando a economia. Isso beneficia as commodities.
Valor: Quais os melhores setores da bolsa neste ano?
Werneck: Comprando Brasil com outros países, tem alguns setores muito bons, como petroquímico, mineração e siderurgia.
Valor: O estrangeiro vem impulsionando a alta da bolsa. Esse fluxo deve continuar?
Werneck: Sim. Em termos de taxa de retorno, o Brasil continua sendo muito atraente. Comparando com Turquia, Leste Europeu e Polônia, o Brasil é o que dá mais tranqüilidade de investir, com um arcabouço institucional que funciona, com um processo democrático tranqüilo. Além disso, onde o estrangeiro vai buscar retornos tão altos? O Brasil tem a melhor relação custo/benefício. O fluxo do câmbio financeiro está explodindo. Se não fosse o Banco Central comprando, o dólar estaria abaixo de R$ 2,00.
Valor: A eleição presidencial deve trazer volatilidade?
Werneck: Num primeiro instante, não teremos volatilidade grande, mas ela deve se acentuar quando tivermos uma definição de quem são os candidatos a presidente e quais os seus planos. Eles começam a ficar mais incisivos em seus discursos, isso acirra a disputa e, por isso, aumenta a volatilidade. Provavelmente não teremos mais um discurso radical destoando dos outros, algo que já aconteceu.
Valor: Com essas projeções tão otimistas para bolsa, o senhor acha que já é momento de oferecer fundos de ações aos clientes de varejo?
Werneck: A Bovespa está fazendo um trabalho interessante, levando informação sobre ações para as pessoas. Isso é importante porque o investidor precisa ter a cultura de investir em bolsa, principalmente o cliente do varejo. A taxa de juros sempre foi alta no Brasil, continua alta, mas à medida que ela for caindo, o apetite por risco aumenta. E não é só isso. Com a queda dos juros, o horizonte de aplicação fica mais longo e a bolsa entra no radar. Mas o investidor precisa entender que é uma aplicação mais arriscada. Hoje, oferecer fundos com gestão ativa de bolsa no varejo é um pouco prematuro.
Valor: Por quê?
Werneck: Porque esse cliente ainda não tem a cultura de bolsa. Um fundo ativo significa que ele pode ter um desempenho diferente do Ibovespa, por exemplo, e o grande público ainda não consegue entender isso. O investidor vê no jornal que Ibovespa subiu 5% e o seu fundo caiu 1%. Ele não consegue entender que o fundo pode ter composição diferente do índice.
Valor: E os fundos passivos, já daria para vendê-los no varejo? A venda não é muito tímida hoje?
Werneck: Para fundos passivos já tem espaço sim. E você tem razão, essa venda no varejo é muito tímida comparada com outros países. Isso vai mudar, mas leva algum tempo. Tem de criar a cultura de bolsa primeiro. É passo a passo. Primeiro o investidor entende o risco de bolsa. Num segundo momento, aplica em fundos passivos e depois entra em carteiras ativas. Para a grande maioria, bolsa ainda é algo muito especulativo. E não é. É baseado em análises fundamentalistas, de longo prazo e eles não têm essa visão.
Valor: E quando o investidor estará pronto para entrar em bolsa?
Werneck: Quando a taxa de juros chegar num nível mais baixo. Esse é o grande empurrão para o cliente entrar em bolsa. Horizonte de mais longo de investimento e taxa de juros caindo é o caminho para desenvolvimento do mercado de capitais. O apetite por risco já está começando. Primeiro vem do investidor mais qualificado - o institucional, o do private -, depois bate no varejo.
Valor: Quanto do patrimônio da ABN Asset está em renda variável?
Werneck: Em torno de 8% do patrimônio total. Muito menos que os 47% que representa dentro dos 173 bilhões de euros administrados pelo ABN no mundo.
Valor: Até onde o senhor acha que esse percentual pode subir?
Werneck: Isso é difícil de saber. Nos EUA e na Europa, por exemplo, a representatividade do mercado de ações é muito maior que o de renda fixa. É o contrário do que ocorre no Brasil. A proporção não é igual (90% ações e 10% renda fixa). O mercado acionário é bem maior. No Brasil, há uma série de melhorias estruturais para serem feitas, mas muita coisa já evoluiu, estamos no caminho certo.
Valor: Além da bolsa, que outros ativos são atrativos?
Werneck: O momento ainda é bom para aplicar em juros, mas teremos uma redução expressiva na taxa, vendo a Selic chegar no fim do ano em 15%. Isso representa juros reais de 10%. O mínimo que o Brasil teve foi 8,5%. Atingindo esse nível ou mais baixo, será ainda mais atraente estar em bolsa, porque teremos mais crescimento econômico. Neste momento, não vejo nada melhor que a bolsa.
Valor: O dólar deve continuar depreciado frente ao real?
Werneck: Estamos vendo o dólar estável este ano fechando em algo como R$ 2,25 ou R$ 2,30. Com a produção destinada ao mercado interno subindo, sustentada pelo consumo local, as exportações caem e o BC pode tirar um pouco o pé das compras de dólar, mas a oscilação será pequena. Não vale a pena como investimento, principalmente comparado com o custo de oportunidade da taxa de juros.
Valor: Os fundos para investidores institucionais possuem taxas de administração bastante baixas, enquanto que no varejo as taxas ainda são altas. Por que isso acontece?
Werneck: Não concordo. Alguns produtos de renda fixa padronizados já estão com taxas bem baixas. Existem fundos DI com taxas entre 0,60% e 1% ao ano. O conceito de alta ou baixa depende do tipo de fundo. Se a finalidade é apenas comprar títulos públicos dá para ser mais condescendente na taxa. Já os fundos que compram títulos de dívida privada, que estão crescendo, exigem uma análise de crédito.
Valor: Com base no ranking global de administradores de recursos da Anbid, de novembro, o ABN está em oitavo lugar com R$ 31,7 bilhões sob administração. Quais os planos do senhor para subir no ranking?
Werneck: Eu divido o ranking em três grandes pedaços: o primeiro, o segundo e o terceiro lugares (BB DTVM, Itaú e Bradesco) são difíceis de competir. Só é possível alcançá-los via uma aquisição. O segundo grupo é o das assets entre R$ 30 bilhões, no qual estamos, e as outras abaixo disso. Estamos brigando nesse bolo dos R$ 30 bilhões. Nesse grupo, a diferença entre as assets é entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. É nisso que o cliente institucional faz a diferença. O crescimento no varejo é no longo prazo. Já no institucional, um cliente a mais pode representar mais R$ 1 bilhão. Queremos incomodar nossos concorrentes, sem sombra de dúvida.
Valor: Como?
Werneck: Com novos produtos, tanto para o varejo quando para os institucionais. Estamos apostando bastante nisso. A minha idéia é encabeçar essa lista dos R$ 30 bilhões, estando logo em seguida da CEF, que está em quarto lugar. Com a presença do ABN no mundo, temos a possibilidade de transferência de conhecimentos. Pretendemos usar a experiência de países desenvolvidos para vermos como se aplica aqui.
Valor: Existe demanda para novos tipos de investimentos?
Werneck: Sim. O setor ainda está muito concentrado em DI pela própria característica do mercado. Com a queda dos juros, o investidor certamente terá mais interesse por outros fundos. A asset que largar na frente vai ganhar mercado.
Valor: Também há espaço para outros tipos de ativos dentro das carteiras dos fundos?
Werneck: Há espaço para usar mais commodities, por exemplo. Os fundos brasileiros usam só câmbio, juros e bolsa. Mesmo nos multimercados, ganha aquele gestor que tem a melhor capacidade apenas de negociar melhor os três mercados. Ninguém entra em outros ativos. A necessidade de oferecer bons retornos vai forçar os gestores a buscar alternativas. Estamos vendo o crescimento no número de fundos imobiliários, os CRIs, até mesmo títulos de dívida corporativa e os seus derivativos.
Valor: O principal executivo da asset no mundo, Frank Kusse, disse ao Valor recentemente que o Brasil era o principal país emergente na área de administração de recursos do ABN. No entanto, o país não tem dado o retorno esperado. Como isso pode mudar?
Werneck: Quando ele disse isso, tinha acabado de assumir o Brasil sem entender bem que a dinâmica do mercado brasileiro é muito diferente dos mercados desenvolvidos em que a arquitetura aberta, por exemplo, já é algo estabelecido. Enquanto no Brasil isso existe apenas para o private. Também há uma grande diferença entre o peso da renda variável no Brasil e em outros países. Hoje, a opinião dele já é diferente. O Brasil tem uma participação expressiva no resultado global da asset. Todas as metas dos últimos anos foram cumpridas. Em termos de receita/despesa, o Brasil tem uma relação compatível com a dos melhores países.
Monday, January 16, 2006
BBM Asset Management
Artigo publicado no Valor Econômico de 16/01/06.
Ex-diretor do BC assume gestora do Banco BBM
Por Catherine Vieira Do Rio
Foto: Leo Pinheiro/Valor
Mais uma gestora de recursos passa a ter um ex-diretor do Banco Central (BC) no comando. Beny Parnes, também professor da PUC-Rio, está no BBM desde 1991, mas pela primeira vez assume a área de administração de recursos do banco, que tem um volume administrado de cerca de R$ 2 bilhões. Nos anos de 2002 e 2003, Parnes se afastou do banco carioca para assumir a diretoria internacional do BC.
Durante o ano passado, o BBM promoveu uma reestruturação no seu segmento de administração de recursos, que foi reincorporado ao banco. Durante um período de quase dois anos, a gestora transformou-se numa sociedade à parte do banco, ainda que tocada por Bruno Mariani, da família Mariani, donos do BBM.
Com o ex-diretor do BC no comando, o BBM passa a ter também Júlio Fernandes como gestor de renda fixa, André Spolidoro na renda variável e Tomás Brisola chefiando a área de análise. "Nós investimos muito em capital humano, em pessoal qualificado", diz Parnes. "Além disso meu perfil sempre foi da área de pesquisa, análise, então é inevitável que esse aspecto passe a ser cada vez mais forte aqui no asset". Ele ressalta que manterá a filosofia do banco, que é a da preservação do capital, da permanência, do longo prazo. "O BBM é uma instituição que vai fazer 150 anos", completou o economista.
Nos números, as mudanças já trazem reflexos positivos. Depois de sofrer, como a maioria dos gestores que focam em fundos diferenciados e multimercados, o BBM começou a recuperar a rentabilidade no segundo semestre de 2002. O BBM High Yield foi um dos fundos mais rentáveis da categoria no segundo semestre do ano passado, com ganhos de 17,16% no período, o equivalente a 185% do CDI. O mais jovem fundo da carteira, o BBM Valuation, bateu também o Ibovespa e fechou o ano passado com ganho de 34%. Um novo fundo deve ser lançado, com perfil mais agressivo e carência para os resgates, uma nova tendência do segmento de multimercados.
Apesar de continuar bastante concentrado no segmento de pessoas físicas com perfil de private banking e de manter a filosofia de clientes com perfil de longo prazo, o BBM também já possui na carteira investidores institucionais e pessoas jurídicas.
O plano agora é expandir as fronteiras, aproveitando os novos escritórios abertos pelo banco em outras praças, como Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Campinas. "Vamos aproveitar esses escritórios para fazer um esforço de captação também nessas praças, por isso estamos recrutando cerca de sete pessoas para atuar nesse segmento de private banking", explica Patrícia Carvalho, que comanda a área comercial da gestora de recursos do BBM. Os fundos são administrados pela própria equipe de gestores do BBM e exigem aplicação mínima de R$ 50 mil.
Para Parnes, que sempre atuou mais na análise ou na área internacional (diretoria que ocupou no Banco Central), o cenário para a economia brasileira neste ano é muito bom e o país reúne várias condições positivas como em poucos momentos ocorreu. "Reduzimos nossa vulnerabilidade, há um movimento de corte de juro em curso", diz Parnes. "Mas, olhando o longo prazo, precisamos retomar as reformas com seriedade se quisermos ter um crescimento sustentado em níveis mais elevados", concluiu.
Artigo publicado no Valor Econômico de 16/01/06.
Ex-diretor do BC assume gestora do Banco BBM
Por Catherine Vieira Do Rio
Foto: Leo Pinheiro/Valor
Mais uma gestora de recursos passa a ter um ex-diretor do Banco Central (BC) no comando. Beny Parnes, também professor da PUC-Rio, está no BBM desde 1991, mas pela primeira vez assume a área de administração de recursos do banco, que tem um volume administrado de cerca de R$ 2 bilhões. Nos anos de 2002 e 2003, Parnes se afastou do banco carioca para assumir a diretoria internacional do BC.
Durante o ano passado, o BBM promoveu uma reestruturação no seu segmento de administração de recursos, que foi reincorporado ao banco. Durante um período de quase dois anos, a gestora transformou-se numa sociedade à parte do banco, ainda que tocada por Bruno Mariani, da família Mariani, donos do BBM.
Com o ex-diretor do BC no comando, o BBM passa a ter também Júlio Fernandes como gestor de renda fixa, André Spolidoro na renda variável e Tomás Brisola chefiando a área de análise. "Nós investimos muito em capital humano, em pessoal qualificado", diz Parnes. "Além disso meu perfil sempre foi da área de pesquisa, análise, então é inevitável que esse aspecto passe a ser cada vez mais forte aqui no asset". Ele ressalta que manterá a filosofia do banco, que é a da preservação do capital, da permanência, do longo prazo. "O BBM é uma instituição que vai fazer 150 anos", completou o economista.
Nos números, as mudanças já trazem reflexos positivos. Depois de sofrer, como a maioria dos gestores que focam em fundos diferenciados e multimercados, o BBM começou a recuperar a rentabilidade no segundo semestre de 2002. O BBM High Yield foi um dos fundos mais rentáveis da categoria no segundo semestre do ano passado, com ganhos de 17,16% no período, o equivalente a 185% do CDI. O mais jovem fundo da carteira, o BBM Valuation, bateu também o Ibovespa e fechou o ano passado com ganho de 34%. Um novo fundo deve ser lançado, com perfil mais agressivo e carência para os resgates, uma nova tendência do segmento de multimercados.
Apesar de continuar bastante concentrado no segmento de pessoas físicas com perfil de private banking e de manter a filosofia de clientes com perfil de longo prazo, o BBM também já possui na carteira investidores institucionais e pessoas jurídicas.
O plano agora é expandir as fronteiras, aproveitando os novos escritórios abertos pelo banco em outras praças, como Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Campinas. "Vamos aproveitar esses escritórios para fazer um esforço de captação também nessas praças, por isso estamos recrutando cerca de sete pessoas para atuar nesse segmento de private banking", explica Patrícia Carvalho, que comanda a área comercial da gestora de recursos do BBM. Os fundos são administrados pela própria equipe de gestores do BBM e exigem aplicação mínima de R$ 50 mil.
Para Parnes, que sempre atuou mais na análise ou na área internacional (diretoria que ocupou no Banco Central), o cenário para a economia brasileira neste ano é muito bom e o país reúne várias condições positivas como em poucos momentos ocorreu. "Reduzimos nossa vulnerabilidade, há um movimento de corte de juro em curso", diz Parnes. "Mas, olhando o longo prazo, precisamos retomar as reformas com seriedade se quisermos ter um crescimento sustentado em níveis mais elevados", concluiu.
Wednesday, January 11, 2006
Saga
Matéria publicada no Valor Econômico de 11 de Janeiro.
Saga abre carteira de olho na recuperação de multimercado
Catherine Vieira Do Rio
Depois de alguns anos difíceis para os multimercados - que registraram fortes resgates nos últimos três anos -, a expectativa de aumento de volatilidade, costumeira em anos eleitorais, já anima novos gestores a abrir as portas para a captação de recursos de terceiros. É o que vem acontecendo com a Saga Investimentos. O multimercado, que já vinha operando recursos próprios para montar um histórico de cotas e desde o fim do ano passado, já aceita novos cotistas em seu fundo multimercado tradicional, o Saga AGC e no fundo de fundos Saga Albatroz.
Instalada na Barra da Tijuca, para onde muitos gestores têm migrado nos últimos tempos, a Saga é liderada por Carlos Carvalho Júnior, ex-Bankers Trust e Icatu, e que já está na estrada independente há algum tempo, desde que montou a Macro Asset Management (que hoje se chama Questus). Junto com os sócios Rafael Icaza (ex-UBS) e Luiz Felipe Urquiza (ex-BofA e Mellon), Carvalho investe num modelo de multimercado mais focado no mercado de ações, sua especialidade desde os tempos de Icatu.
Apesar de não ter fugido à regra de 2005, quando os multimercados atravessaram um período de ganhos menores, o Saga AGC apresenta ganhos de 132% do CDI desde seu início, em setembro de 2003. "Este ano começou bem para os multimercados e acredito que vai haver um aumento de volatilidade, que deve beneficiar mais esse segmento", disse Carvalho.
Segundo ele, os fundos multimercados podem acabar se tornando mais interessantes porque neste tipo de carteira o gestor pode sair mais rápido de determinados investimentos no caso de uma reversão de tendência. "A bolsa já não está mais tão barata quanto era e, se ocorrer uma mudança de rumo, o multimercado sofre menos que os fundos de ações, mas ao mesmo tempo pode aproveitar oportunidades na renda variável", diz.
Carvalho explica que o fundo Saga AGC está agora com uma volatilidade em torno de 2%, mas que a previsão é que essa média seja maior em períodos mais longos. "A idéia é ficar com oscilação em torno de 5% no ano", diz. "Usamos uma estratégia de multimercado convencional, com foco grande em renda variável, mas sem correlação com nenhum mercado específico".
A administração e a custódia dos fundos ficam a cargo do Pactual e a taxa de administração do multimercado é de 2%, mais a performance de 25% sobre o que exceder o CDI. A aplicação mínima é de R$ 50 mil. Já no fundo de fundos, a taxa de administração é de 1%, mais 20% de taxa de performance sobre o que exceder o CDI e a aplicação mínima é mais elevada, de R$ 100 mil.
Matéria publicada no Valor Econômico de 11 de Janeiro.
Saga abre carteira de olho na recuperação de multimercado
Catherine Vieira Do Rio
Depois de alguns anos difíceis para os multimercados - que registraram fortes resgates nos últimos três anos -, a expectativa de aumento de volatilidade, costumeira em anos eleitorais, já anima novos gestores a abrir as portas para a captação de recursos de terceiros. É o que vem acontecendo com a Saga Investimentos. O multimercado, que já vinha operando recursos próprios para montar um histórico de cotas e desde o fim do ano passado, já aceita novos cotistas em seu fundo multimercado tradicional, o Saga AGC e no fundo de fundos Saga Albatroz.
Instalada na Barra da Tijuca, para onde muitos gestores têm migrado nos últimos tempos, a Saga é liderada por Carlos Carvalho Júnior, ex-Bankers Trust e Icatu, e que já está na estrada independente há algum tempo, desde que montou a Macro Asset Management (que hoje se chama Questus). Junto com os sócios Rafael Icaza (ex-UBS) e Luiz Felipe Urquiza (ex-BofA e Mellon), Carvalho investe num modelo de multimercado mais focado no mercado de ações, sua especialidade desde os tempos de Icatu.
Apesar de não ter fugido à regra de 2005, quando os multimercados atravessaram um período de ganhos menores, o Saga AGC apresenta ganhos de 132% do CDI desde seu início, em setembro de 2003. "Este ano começou bem para os multimercados e acredito que vai haver um aumento de volatilidade, que deve beneficiar mais esse segmento", disse Carvalho.
Segundo ele, os fundos multimercados podem acabar se tornando mais interessantes porque neste tipo de carteira o gestor pode sair mais rápido de determinados investimentos no caso de uma reversão de tendência. "A bolsa já não está mais tão barata quanto era e, se ocorrer uma mudança de rumo, o multimercado sofre menos que os fundos de ações, mas ao mesmo tempo pode aproveitar oportunidades na renda variável", diz.
Carvalho explica que o fundo Saga AGC está agora com uma volatilidade em torno de 2%, mas que a previsão é que essa média seja maior em períodos mais longos. "A idéia é ficar com oscilação em torno de 5% no ano", diz. "Usamos uma estratégia de multimercado convencional, com foco grande em renda variável, mas sem correlação com nenhum mercado específico".
A administração e a custódia dos fundos ficam a cargo do Pactual e a taxa de administração do multimercado é de 2%, mais a performance de 25% sobre o que exceder o CDI. A aplicação mínima é de R$ 50 mil. Já no fundo de fundos, a taxa de administração é de 1%, mais 20% de taxa de performance sobre o que exceder o CDI e a aplicação mínima é mais elevada, de R$ 100 mil.
Explosão dos Long/Short
Segue matéria publicada no Valor Econômico de 11 de Janeiro sobre o aumento dos fundos Long/Short.
Correção de rota
Por Daniele Camba e Angelo Pavini
De São Paulo
O bom desempenho da bolsa está levando as administradoras de recursos independentes a mudarem suas estratégias, aumentando o foco em renda variável. A conseqüência é uma verdadeira proliferação no número de fundos multimercados dedicados a fazer arbitragens de ações, conhecidos como long/short. Essa tendência também vem causando mudanças na própria estrutura das assets, que estão criando áreas específicas de bolsa e times de analistas de ações.
Um dos motivos está no desempenho dos fundos de arbitragem. Estudo com os gestores independentes com patrimônio acima de R$ 10 milhões feito pelo Valor com dados do site Fortuna indicam resultados em 2005 bem acima dos 19% do CDI. Já nos fundos multimercados em geral, a média está mais perto dos 20%. Isso se reflete também na captação, onde, com algumas exceções como Claritas, Mauá e Opus, os multimercados tradicionais perderam recursos enquanto os long/shorts ganharam.
A decisão de trilhar um novo caminho veio principalmente depois da rentabilidade abaixo do CDI que os multimercados com estratégias macroeconômicas (que tenta acertar os movimentos dos mercados e da economia) registraram e dos resgates que se seguiram nos últimos dois anos. Entre as que mudaram está a Fides Asset Management, uma gestora carioca que desde a sua criação, em 2002, tinha como carro-chefe um multimercado macroeconômico. Após a saída de um dos sócios (Cesar Trotte), que montou uma nova asset - a Mandarim - e levou junto o multimercado, a Fides resolveu concentrar esforços em novas carteiras de bolsa e em long/short.
Alguns dias depois foi a vez da Quest Investimentos anunciar a montagem de uma área de bolsa e o lançamento também de uma aplicação do tipo. Em junho passado, ela já tinha lançado um fundo de ações. Esta semana, a Modal Asset Management tornou público os planos de aumentar a participação da renda variável dentro do seu portfólio, começando com uma carteira de arbitragem.
Um dos fatores que levaram as assets independentes a mudar suas estratégias de fundos multimercados direcionais para carteiras com maior concentração em bolsa é a ausência de uma tendência definida nos principais mercados nos últimos dois anos. Os anos de 2001, 2002 e 2003 foram um período de ouro para os multimercados, que conseguiram ganhos fáceis com a taxa de juros, lembra o sócio da "family office" Tag Investimentos, Thiago de Castro. "Os fundos fizeram grandes investimentos em renda fixa e só esperaram a taxa de juros cair", diz. Já em 2004 e 2005, apesar do início do processo de queda da Selic, as possibilidades de ganhos ficaram escassas.
Foi nesse cenário sem prêmios em outros ativos e sem um norte definido que os fundos long/short acabaram despontando, já que ganham com a arbitragem de preços entre as ações. Independente do mercado ter ou não uma tendência, sempre há distorções entre papéis da bolsa, que podem representar bons ganhos para quem descobri-las.
Um fundo long/short procura ganhar com as distorções de preços entre as ações. Por exemplo, entre ordinárias e preferenciais de uma mesma empresa (comprando a descontada e vendendo a que já se valorizou), entre holding e operadora, entre companhias do mesmo setor ou de setores diferentes.
Para fechar o quadro à favor dessas carteiras, a bolsa subiu nos últimos três anos e tem fortes motivos para entrar para a história com este sendo o quarto ano de valorização. Para o diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, os long/short são a maneira ideal do investidor aproveitar o bom momento da bolsa, mas ainda ter um pé na renda fixa, já que, diferente dos fundos de ações, os multimercados não precisam ficar o tempo todo com posições em renda variável. Enquanto o juro real (descontado a inflação) estiver acima de 8% ao ano, o investidor preferirá um fundo que não fique 100% exposto à bolsa.
Os analistas alertam, no entanto, para a qualidade do crescimento dos fundos de arbitragem, que exigem uma boa área de análise. "De todas as gestoras de long/short, cerca de 20% atendem a esse requisito", diz Castro, da Tag. "Muito gestor que não entende de ações lançou esse tipo de fundo porque virou moda." Outro alerta é com relação ao tamanho dos fundos que, exatamente por lidarem com arbitragem, precisam ter agilidade para comprar e vender ações rapidamente. O investidor precisa estar consciente que, como esse tipo de fundo fica vendido em ações (aluga os papéis para vendê-las), ele sofre mais que um fundo comum quando a bolsa cai.
O ano passado foi bom para esse tipo de estratégia pois havia setores na bolsa indo bem e outros não, o que tornou relativamente fácil obter retornos na arbitragem de ações, diz Dany Rappaport, da Investport Consultoria de Gestão. Ele chama a atenção, porém, que no segundo semestre, os resultados dos fundos macroeconômicos melhoraram e isso deve significar aumento de captação neste início de ano. Mas, no geral, o ano não foi bom para os multimercados e isso levou às mudanças dos gestores, que devem continuar.
No tiroteio de 2005, algumas casas se destacaram, com bom desempenho, como a Polo, a Neo Investimentos, a Mauá Asset Management (do ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, que captou mais de R$ 700 milhões em um ano) e Claritas Investimentos, que teve fortes perdas de patrimônio em 2004 e deu a volta por cima em 2005, fechando com uma das melhores rentabilidades.
Outros gestores respeitados, porém, sofreram com os saques, caso da GAP, da Fidúcia Asset Management, do Pátria e da GP Investimentos - esta última terminou por fechar um dos fundos, o Petrópolis, mantendo apenas o Petrópolis Plus. Rappaport considera esse movimento de crescimento e redução natural. "É um mercado que incha e desincha, no mundo inteiro é assim", afirma. Ele reconhece que aqui esse movimento é ampliado pela concentração grande de distribuidores em private banks, que quando resgatam desequilibram as carteiras, além da liquidez diária dos fundos e de clientes pouco acostumados à volatilidade. Mas no fim, o que pesa, aqui e no resto do mundo é a capacidade do gestor de fazer o fundo render mais. "O que é uma pena pois o investidor acaba olhando mais para o passado e achando que vai ser o mesmo no futuro."
Estratégias de arbitragem foram as grandes vencedoras
De São Paulo
Um dos principais destaques do ano entre os independentes foi o resultado dos fundos de arbitragem da Polo Capital. O Polo HG FIA, classificado como long/short, acumulou no ano passado alta de 45,79% e o Polo Norte, de 28,09% - ambos bem acima do CDI, de 19% no período. Marcos Duarte, sócio da gestora, explica que o Polo HG é um fundo long/short diferenciado. Ele reúne a maioria das estratégias de arbitragem, com apostas em ações do mesmo setor ou de setores diferentes, de papéis ordinários com preferenciais de uma mesma empresa ou da holding contra a subsidiária. Mas uma estratégia que fez a carteira render mais no ano passado foi a de buscar eventos que mexessem com os papéis ("event driven"). "Ganhamos muito com operações envolvendo a reestruturação da operadora de telefonia celular Vivo", diz Duarte. O fundo aproveitou que papéis das subsidiárias da Telesp Celular estavam sendo negociadas com desconto e, quando a reestruturação saiu, o fundo teve um forte retorno.
Duarte diz que grande parte das apostas do Polo FIA é em torno de eventos que envolvam as empresas. E são operações longas, de seis meses a um ano, que vêm garantindo um retorno nos últimos três anos de cerca de 200% do CDI. Duarte deixa claro, porém, que o investidor que aplica nos fundos da Polo deve estar preparado para uma volatilidade maior. No caso do Polo HG, essa volatilidade é de 12% a 15% ao ano, enquanto no Polo Norte, que segue a carteira do HG, é de 4%.
A moda dos long/short, porém, pode criar problemas no futuro. Muitas assets se reestruturaram para se concentrar em ações e perderam o pessoal de macroeconomia, o que pode ser prejudicial, avalia Dany Rappaport, da Investport. "Neste ano, bons analistas de câmbio e juros devem ser muito importantes", afirma. Rappaport acha que os fundos macroeconômicos devem voltar a ter importância e retornos neste ano, tanto que o fundo de fundos da Investport ampliou a parcela nessas carteiras, para 55%, deixando 38% para os long/short. Em setembro, a carteira tinha 50% long/short e 30% em fundos DI.
"Os mercados este ano tendem a apresentar tendência mais clara, beneficiando os fundos macro", diz Fernando Ganme, sócio da consultoria Capital . Prova disso é o desempenho médio positivo dos fundos macro nos últimos três meses. Isso deve ocorrer exatamente pela definição de um cenário de crescimento econômico. (AP)
Segue matéria publicada no Valor Econômico de 11 de Janeiro sobre o aumento dos fundos Long/Short.
Correção de rota
Por Daniele Camba e Angelo Pavini
De São Paulo
O bom desempenho da bolsa está levando as administradoras de recursos independentes a mudarem suas estratégias, aumentando o foco em renda variável. A conseqüência é uma verdadeira proliferação no número de fundos multimercados dedicados a fazer arbitragens de ações, conhecidos como long/short. Essa tendência também vem causando mudanças na própria estrutura das assets, que estão criando áreas específicas de bolsa e times de analistas de ações.
Um dos motivos está no desempenho dos fundos de arbitragem. Estudo com os gestores independentes com patrimônio acima de R$ 10 milhões feito pelo Valor com dados do site Fortuna indicam resultados em 2005 bem acima dos 19% do CDI. Já nos fundos multimercados em geral, a média está mais perto dos 20%. Isso se reflete também na captação, onde, com algumas exceções como Claritas, Mauá e Opus, os multimercados tradicionais perderam recursos enquanto os long/shorts ganharam.
A decisão de trilhar um novo caminho veio principalmente depois da rentabilidade abaixo do CDI que os multimercados com estratégias macroeconômicas (que tenta acertar os movimentos dos mercados e da economia) registraram e dos resgates que se seguiram nos últimos dois anos. Entre as que mudaram está a Fides Asset Management, uma gestora carioca que desde a sua criação, em 2002, tinha como carro-chefe um multimercado macroeconômico. Após a saída de um dos sócios (Cesar Trotte), que montou uma nova asset - a Mandarim - e levou junto o multimercado, a Fides resolveu concentrar esforços em novas carteiras de bolsa e em long/short.
Alguns dias depois foi a vez da Quest Investimentos anunciar a montagem de uma área de bolsa e o lançamento também de uma aplicação do tipo. Em junho passado, ela já tinha lançado um fundo de ações. Esta semana, a Modal Asset Management tornou público os planos de aumentar a participação da renda variável dentro do seu portfólio, começando com uma carteira de arbitragem.
Um dos fatores que levaram as assets independentes a mudar suas estratégias de fundos multimercados direcionais para carteiras com maior concentração em bolsa é a ausência de uma tendência definida nos principais mercados nos últimos dois anos. Os anos de 2001, 2002 e 2003 foram um período de ouro para os multimercados, que conseguiram ganhos fáceis com a taxa de juros, lembra o sócio da "family office" Tag Investimentos, Thiago de Castro. "Os fundos fizeram grandes investimentos em renda fixa e só esperaram a taxa de juros cair", diz. Já em 2004 e 2005, apesar do início do processo de queda da Selic, as possibilidades de ganhos ficaram escassas.
Foi nesse cenário sem prêmios em outros ativos e sem um norte definido que os fundos long/short acabaram despontando, já que ganham com a arbitragem de preços entre as ações. Independente do mercado ter ou não uma tendência, sempre há distorções entre papéis da bolsa, que podem representar bons ganhos para quem descobri-las.
Um fundo long/short procura ganhar com as distorções de preços entre as ações. Por exemplo, entre ordinárias e preferenciais de uma mesma empresa (comprando a descontada e vendendo a que já se valorizou), entre holding e operadora, entre companhias do mesmo setor ou de setores diferentes.
Para fechar o quadro à favor dessas carteiras, a bolsa subiu nos últimos três anos e tem fortes motivos para entrar para a história com este sendo o quarto ano de valorização. Para o diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, os long/short são a maneira ideal do investidor aproveitar o bom momento da bolsa, mas ainda ter um pé na renda fixa, já que, diferente dos fundos de ações, os multimercados não precisam ficar o tempo todo com posições em renda variável. Enquanto o juro real (descontado a inflação) estiver acima de 8% ao ano, o investidor preferirá um fundo que não fique 100% exposto à bolsa.
Os analistas alertam, no entanto, para a qualidade do crescimento dos fundos de arbitragem, que exigem uma boa área de análise. "De todas as gestoras de long/short, cerca de 20% atendem a esse requisito", diz Castro, da Tag. "Muito gestor que não entende de ações lançou esse tipo de fundo porque virou moda." Outro alerta é com relação ao tamanho dos fundos que, exatamente por lidarem com arbitragem, precisam ter agilidade para comprar e vender ações rapidamente. O investidor precisa estar consciente que, como esse tipo de fundo fica vendido em ações (aluga os papéis para vendê-las), ele sofre mais que um fundo comum quando a bolsa cai.
O ano passado foi bom para esse tipo de estratégia pois havia setores na bolsa indo bem e outros não, o que tornou relativamente fácil obter retornos na arbitragem de ações, diz Dany Rappaport, da Investport Consultoria de Gestão. Ele chama a atenção, porém, que no segundo semestre, os resultados dos fundos macroeconômicos melhoraram e isso deve significar aumento de captação neste início de ano. Mas, no geral, o ano não foi bom para os multimercados e isso levou às mudanças dos gestores, que devem continuar.
No tiroteio de 2005, algumas casas se destacaram, com bom desempenho, como a Polo, a Neo Investimentos, a Mauá Asset Management (do ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, que captou mais de R$ 700 milhões em um ano) e Claritas Investimentos, que teve fortes perdas de patrimônio em 2004 e deu a volta por cima em 2005, fechando com uma das melhores rentabilidades.
Outros gestores respeitados, porém, sofreram com os saques, caso da GAP, da Fidúcia Asset Management, do Pátria e da GP Investimentos - esta última terminou por fechar um dos fundos, o Petrópolis, mantendo apenas o Petrópolis Plus. Rappaport considera esse movimento de crescimento e redução natural. "É um mercado que incha e desincha, no mundo inteiro é assim", afirma. Ele reconhece que aqui esse movimento é ampliado pela concentração grande de distribuidores em private banks, que quando resgatam desequilibram as carteiras, além da liquidez diária dos fundos e de clientes pouco acostumados à volatilidade. Mas no fim, o que pesa, aqui e no resto do mundo é a capacidade do gestor de fazer o fundo render mais. "O que é uma pena pois o investidor acaba olhando mais para o passado e achando que vai ser o mesmo no futuro."
Estratégias de arbitragem foram as grandes vencedoras
De São Paulo
Um dos principais destaques do ano entre os independentes foi o resultado dos fundos de arbitragem da Polo Capital. O Polo HG FIA, classificado como long/short, acumulou no ano passado alta de 45,79% e o Polo Norte, de 28,09% - ambos bem acima do CDI, de 19% no período. Marcos Duarte, sócio da gestora, explica que o Polo HG é um fundo long/short diferenciado. Ele reúne a maioria das estratégias de arbitragem, com apostas em ações do mesmo setor ou de setores diferentes, de papéis ordinários com preferenciais de uma mesma empresa ou da holding contra a subsidiária. Mas uma estratégia que fez a carteira render mais no ano passado foi a de buscar eventos que mexessem com os papéis ("event driven"). "Ganhamos muito com operações envolvendo a reestruturação da operadora de telefonia celular Vivo", diz Duarte. O fundo aproveitou que papéis das subsidiárias da Telesp Celular estavam sendo negociadas com desconto e, quando a reestruturação saiu, o fundo teve um forte retorno.
Duarte diz que grande parte das apostas do Polo FIA é em torno de eventos que envolvam as empresas. E são operações longas, de seis meses a um ano, que vêm garantindo um retorno nos últimos três anos de cerca de 200% do CDI. Duarte deixa claro, porém, que o investidor que aplica nos fundos da Polo deve estar preparado para uma volatilidade maior. No caso do Polo HG, essa volatilidade é de 12% a 15% ao ano, enquanto no Polo Norte, que segue a carteira do HG, é de 4%.
A moda dos long/short, porém, pode criar problemas no futuro. Muitas assets se reestruturaram para se concentrar em ações e perderam o pessoal de macroeconomia, o que pode ser prejudicial, avalia Dany Rappaport, da Investport. "Neste ano, bons analistas de câmbio e juros devem ser muito importantes", afirma. Rappaport acha que os fundos macroeconômicos devem voltar a ter importância e retornos neste ano, tanto que o fundo de fundos da Investport ampliou a parcela nessas carteiras, para 55%, deixando 38% para os long/short. Em setembro, a carteira tinha 50% long/short e 30% em fundos DI.
"Os mercados este ano tendem a apresentar tendência mais clara, beneficiando os fundos macro", diz Fernando Ganme, sócio da consultoria Capital . Prova disso é o desempenho médio positivo dos fundos macro nos últimos três meses. Isso deve ocorrer exatamente pela definição de um cenário de crescimento econômico. (AP)
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