Wednesday, January 11, 2006

Explosão dos Long/Short

Segue matéria publicada no Valor Econômico de 11 de Janeiro sobre o aumento dos fundos Long/Short.


Correção de rota
Por Daniele Camba e Angelo Pavini
De São Paulo

O bom desempenho da bolsa está levando as administradoras de recursos independentes a mudarem suas estratégias, aumentando o foco em renda variável. A conseqüência é uma verdadeira proliferação no número de fundos multimercados dedicados a fazer arbitragens de ações, conhecidos como long/short. Essa tendência também vem causando mudanças na própria estrutura das assets, que estão criando áreas específicas de bolsa e times de analistas de ações.
Um dos motivos está no desempenho dos fundos de arbitragem. Estudo com os gestores independentes com patrimônio acima de R$ 10 milhões feito pelo Valor com dados do site Fortuna indicam resultados em 2005 bem acima dos 19% do CDI. Já nos fundos multimercados em geral, a média está mais perto dos 20%. Isso se reflete também na captação, onde, com algumas exceções como Claritas, Mauá e Opus, os multimercados tradicionais perderam recursos enquanto os long/shorts ganharam.
A decisão de trilhar um novo caminho veio principalmente depois da rentabilidade abaixo do CDI que os multimercados com estratégias macroeconômicas (que tenta acertar os movimentos dos mercados e da economia) registraram e dos resgates que se seguiram nos últimos dois anos. Entre as que mudaram está a Fides Asset Management, uma gestora carioca que desde a sua criação, em 2002, tinha como carro-chefe um multimercado macroeconômico. Após a saída de um dos sócios (Cesar Trotte), que montou uma nova asset - a Mandarim - e levou junto o multimercado, a Fides resolveu concentrar esforços em novas carteiras de bolsa e em long/short.
Alguns dias depois foi a vez da Quest Investimentos anunciar a montagem de uma área de bolsa e o lançamento também de uma aplicação do tipo. Em junho passado, ela já tinha lançado um fundo de ações. Esta semana, a Modal Asset Management tornou público os planos de aumentar a participação da renda variável dentro do seu portfólio, começando com uma carteira de arbitragem.
Um dos fatores que levaram as assets independentes a mudar suas estratégias de fundos multimercados direcionais para carteiras com maior concentração em bolsa é a ausência de uma tendência definida nos principais mercados nos últimos dois anos. Os anos de 2001, 2002 e 2003 foram um período de ouro para os multimercados, que conseguiram ganhos fáceis com a taxa de juros, lembra o sócio da "family office" Tag Investimentos, Thiago de Castro. "Os fundos fizeram grandes investimentos em renda fixa e só esperaram a taxa de juros cair", diz. Já em 2004 e 2005, apesar do início do processo de queda da Selic, as possibilidades de ganhos ficaram escassas.
Foi nesse cenário sem prêmios em outros ativos e sem um norte definido que os fundos long/short acabaram despontando, já que ganham com a arbitragem de preços entre as ações. Independente do mercado ter ou não uma tendência, sempre há distorções entre papéis da bolsa, que podem representar bons ganhos para quem descobri-las.
Um fundo long/short procura ganhar com as distorções de preços entre as ações. Por exemplo, entre ordinárias e preferenciais de uma mesma empresa (comprando a descontada e vendendo a que já se valorizou), entre holding e operadora, entre companhias do mesmo setor ou de setores diferentes.
Para fechar o quadro à favor dessas carteiras, a bolsa subiu nos últimos três anos e tem fortes motivos para entrar para a história com este sendo o quarto ano de valorização. Para o diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, os long/short são a maneira ideal do investidor aproveitar o bom momento da bolsa, mas ainda ter um pé na renda fixa, já que, diferente dos fundos de ações, os multimercados não precisam ficar o tempo todo com posições em renda variável. Enquanto o juro real (descontado a inflação) estiver acima de 8% ao ano, o investidor preferirá um fundo que não fique 100% exposto à bolsa.
Os analistas alertam, no entanto, para a qualidade do crescimento dos fundos de arbitragem, que exigem uma boa área de análise. "De todas as gestoras de long/short, cerca de 20% atendem a esse requisito", diz Castro, da Tag. "Muito gestor que não entende de ações lançou esse tipo de fundo porque virou moda." Outro alerta é com relação ao tamanho dos fundos que, exatamente por lidarem com arbitragem, precisam ter agilidade para comprar e vender ações rapidamente. O investidor precisa estar consciente que, como esse tipo de fundo fica vendido em ações (aluga os papéis para vendê-las), ele sofre mais que um fundo comum quando a bolsa cai.
O ano passado foi bom para esse tipo de estratégia pois havia setores na bolsa indo bem e outros não, o que tornou relativamente fácil obter retornos na arbitragem de ações, diz Dany Rappaport, da Investport Consultoria de Gestão. Ele chama a atenção, porém, que no segundo semestre, os resultados dos fundos macroeconômicos melhoraram e isso deve significar aumento de captação neste início de ano. Mas, no geral, o ano não foi bom para os multimercados e isso levou às mudanças dos gestores, que devem continuar.
No tiroteio de 2005, algumas casas se destacaram, com bom desempenho, como a Polo, a Neo Investimentos, a Mauá Asset Management (do ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, que captou mais de R$ 700 milhões em um ano) e Claritas Investimentos, que teve fortes perdas de patrimônio em 2004 e deu a volta por cima em 2005, fechando com uma das melhores rentabilidades.
Outros gestores respeitados, porém, sofreram com os saques, caso da GAP, da Fidúcia Asset Management, do Pátria e da GP Investimentos - esta última terminou por fechar um dos fundos, o Petrópolis, mantendo apenas o Petrópolis Plus. Rappaport considera esse movimento de crescimento e redução natural. "É um mercado que incha e desincha, no mundo inteiro é assim", afirma. Ele reconhece que aqui esse movimento é ampliado pela concentração grande de distribuidores em private banks, que quando resgatam desequilibram as carteiras, além da liquidez diária dos fundos e de clientes pouco acostumados à volatilidade. Mas no fim, o que pesa, aqui e no resto do mundo é a capacidade do gestor de fazer o fundo render mais. "O que é uma pena pois o investidor acaba olhando mais para o passado e achando que vai ser o mesmo no futuro."

Estratégias de arbitragem foram as grandes vencedoras
De São Paulo

Um dos principais destaques do ano entre os independentes foi o resultado dos fundos de arbitragem da Polo Capital. O Polo HG FIA, classificado como long/short, acumulou no ano passado alta de 45,79% e o Polo Norte, de 28,09% - ambos bem acima do CDI, de 19% no período. Marcos Duarte, sócio da gestora, explica que o Polo HG é um fundo long/short diferenciado. Ele reúne a maioria das estratégias de arbitragem, com apostas em ações do mesmo setor ou de setores diferentes, de papéis ordinários com preferenciais de uma mesma empresa ou da holding contra a subsidiária. Mas uma estratégia que fez a carteira render mais no ano passado foi a de buscar eventos que mexessem com os papéis ("event driven"). "Ganhamos muito com operações envolvendo a reestruturação da operadora de telefonia celular Vivo", diz Duarte. O fundo aproveitou que papéis das subsidiárias da Telesp Celular estavam sendo negociadas com desconto e, quando a reestruturação saiu, o fundo teve um forte retorno.
Duarte diz que grande parte das apostas do Polo FIA é em torno de eventos que envolvam as empresas. E são operações longas, de seis meses a um ano, que vêm garantindo um retorno nos últimos três anos de cerca de 200% do CDI. Duarte deixa claro, porém, que o investidor que aplica nos fundos da Polo deve estar preparado para uma volatilidade maior. No caso do Polo HG, essa volatilidade é de 12% a 15% ao ano, enquanto no Polo Norte, que segue a carteira do HG, é de 4%.
A moda dos long/short, porém, pode criar problemas no futuro. Muitas assets se reestruturaram para se concentrar em ações e perderam o pessoal de macroeconomia, o que pode ser prejudicial, avalia Dany Rappaport, da Investport. "Neste ano, bons analistas de câmbio e juros devem ser muito importantes", afirma. Rappaport acha que os fundos macroeconômicos devem voltar a ter importância e retornos neste ano, tanto que o fundo de fundos da Investport ampliou a parcela nessas carteiras, para 55%, deixando 38% para os long/short. Em setembro, a carteira tinha 50% long/short e 30% em fundos DI.
"Os mercados este ano tendem a apresentar tendência mais clara, beneficiando os fundos macro", diz Fernando Ganme, sócio da consultoria Capital . Prova disso é o desempenho médio positivo dos fundos macro nos últimos três meses. Isso deve ocorrer exatamente pela definição de um cenário de crescimento econômico. (AP)

No comments: