Entrevista com Private Bank do HSBC
Foi publicada dia 7 de Novembro no Valor Online. Segue a íntegra:
HSBC Private quer crescer no Brasil com serviço global
Por Angelo Pavini De São Paulo
O Brasil e as Américas têm posição de destaque na estratégia mundial do HSBC Private Bank. Segundo seu presidente mundial Clive Bannister, o crescimento do país e o interesse cada vez maior dos investidores internacionais por ativos brasileiros abrem espaço para a ampliação dos negócios, tanto localmente quanto no exterior. A expectativa do banco é de um crescimento de 20% neste ano e no próximo tanto em clientes quanto em receitas nas Américas e de 15% no restante do mundo. No Brasil, onde o HSBC ganhou corpo ao comprar as operações do francês CCF em 2000, o crescimento deste ano deve ser ainda maior.
A presença global do grupo é um dos trunfos que Bannister e sua equipe pretendem usar para crescer, oferecendo aos clientes contatos com investidores e empresas de todo o mundo. A atuação do grupo nas mais diversas áreas, desde banco corporativo até de investimentos, também ajuda a atrair clientes interessados em um serviço que vai além da simples gestão de recursos. A proposta é avançar em áreas que vão de sucessão familiar a assessoria tributária internacional. Há seis anos no comando do private mundial do HSBC, Bannister veio ao Brasil juntamente com o diretor-executivo para as Américas Gerard Aquilina semana passada e conversaram com o Valor.
Valor: Qual o peso do private bank no HSBC?
Clive Bannister: O grupo teve um lucro no primeiro semestre de US$ 10 bilhões antes de impostos e o private representou cerca de 5% disso, ou US$ 470 milhões. Temos 5.700 pessoas trabalhando em 24 países. E a idéia não é apenas crescer. É bom ser grande, melhor ser bom e melhor ainda ser os dois.
Valor: Qual será a estratégia?
Bannister: Somos relativamente novos na área. Há dez anos, o HSBC não seria o banco escolhido por alguém procurando um private bank. Compramos diversos bancos ao longo desses anos, como o Republic (do falecido banqueiro Edmond Safra) e o CCF, e hoje somos o terceiro private bank no mundo, com ativos sob gestão de US$ 323 bilhões em junho, número que deve chegar a US$ 340 bilhões no final do ano. Reconhecemos que estamos longe dos dois líderes, os suíços UBS, que tem três vezes o nosso total de ativos, e o CSFB. Mas vale lembrar que foram os suíços que inventaram o negócio de private há mais de cem anos, e nós temos apenas seis. Mas temos nossas vantagens.
Valor: Quais seriam?
Bannister: Nós somos um private bank globalizado, não apenas de um país ou região. Esse conceito é importante particulamente para os clientes brasileiros, que também são internacionalizados. Quando você pergunta a um empresário brasileiro o que ele faz, ele diz que está negociando com o Japão, ou vendendo soja para o China. Por isso nosso conceito de private bank tem de ser global, tanto no atendimento local quanto internacional. Nosso desafio é ser um embaixador dos nossos clientes no mundo e dentro do HSBC.
Valor: Como isso pode ajudar na América Latina?
Gerard Aquilina: Há um grande número de empresas familiares na região. Por isso, nosso trabalho é menos gestão de recursos e mais gestão de relacionamento. Precisamos trabalhar muito próximos do banco comercial e de investimentos para ver como podemos ajudar o negócio da família crescer ou continuar a existir. Por isso, boa parte de nosso trabalho é preparar sucessão nas empresas. Além disso, há clientes que nos procuram porque não conseguem vencer a concorrência chinesa, por exemplo, e então buscam juntar-se a eles. E nós fazemos a ponte com empresas chinesas. Nós temos a vantagem de fazer parte de um grupo presente em 78 países.
Bannister: Nessa linha, compramos um banco três anos atrás, nas Bermudas, foi estratégico para ampliar e enfatizar os negócios de criação de trustes (empresas que cuidam de gestão de patrimônios) para ajudar familias a lidar com questões de sucessão. Temos cerca de 700 funcionários trabalhando com trustes de empresas e famílias. Trabalhamos ainda para preparar herdeiros ou buscar oportunidades de parcerias que garantam a continuidade da empresa. Buscamos promover eventos reunindo herdeiros e famílias de diversos países para discutir negócios, o que acaba proporcionando contatos importantes para o futuro. Temos também 350 pessoas na área de orientação tributária internacional. É fundamental para um cliente na gestão de sua fortuna saber o impacto dos impostos, e isso muda bastante em cada país.
Valor: Qual o país mais importante hoje para vocês?
Bannister: Não posso dizer isso exatamente porque o que conta não são apenas os negócios locais. Há um grande volume de negócios internacionais proporcionados por um país também. Mas olhando apenas para os lucros do primeiro semestre, aproximadamente a metade veio da Europa, um terço veio da Asia e 15% veio das américas. E, nas Américas, a maior receita veio da América do Norte e, em seguida, do Brasil, onde temos uma grande presença.
Valor: E o Brasil, qual a importância dele para o HSBC Private?
Bannister: A importância do Brasil excede as fronteiras. Nós encontramos brasileiros em Londres, Luxemburgo, Genebra Zurique, Nova York, Miami. Somos o terceiro maior private bank do Brasil, atrás apenas de Itaú e Unibanco. Hoje temos escritórios em São Paulo, no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. Olhando para o futuro, o valor do Brasil para a economia mundial deve continuar crescendo. A China deve ganhar importância em termos de PIB, consumindo mais commodities, e isso ajudará o Brasil. Por isso, podemos esperar um crescimento dos ativos locais acima da média, talvez entre 14% e 20% ao ano.
Valor: E o interesse internacional pelo país deve continuar?
Bannister: O Brasil evoluiu para tornar-se uma "emerging market opportunity" tanto em renda fixa quanto em ações. E sua participação varia de acordo com as outras oportunidades entre os mercados emergentes que incluem Rússia, Índia, China e México. Por isso fomos pioneiros na criação dos fundos BRIC (abreviação de Brasil, Rússia, Índia e China), que foi um sucesso entre os investidores internacionais. Hoje temos quase US$ 2 bilhões nesse fundo, um reconhecimento do fato de que os países emergentes, além de estarem crescendo, apresentam empresas com boa governança e transparência, e maior solidez de suas moedas.
Aquilina: Essa maior procura acontece também nos Estados Unidos. Os investidores americanos, tradicionalmente muito focados no mercado local, aumentaram o percentual investido em mercados emergentes de 1%, 2% para 10% a 15% em cinco anos. É uma mudança dramática e mostra maior confiança.
Valor: Como as eleições no Brasil afetam os investimentos?
Aquilina: Vejo um cenário positivo para o Brasil, com a China continuando a crescer 8%, 9% ao ano e aumentando as importações de commodities brasileiras. Uma das principais razões para os investidores internacionais estarem tão confiantes na economia brasileira é a separação entre o cenário político e o econômico.
Valor: Como será o negócio de private no próximo ano?.
Bannister: Podemos dividir o mundo em três regiões. Nosso negócio na Ásia está crescendo extremamente depressa local e externamente. Isso tudo explicado pelo crescimento da China. Podemos incluir aí a India, onde nós começamos nosso negócio local este ano, e estamos indo muito bem em lugares como Dubai e no Oriente Médio. E o crescimento da China influencia Taiwan, Japão, Cingapura, Tailândia. Por isso a Asia deve continuar sendo nosso mercado de crescimento mais rápido. E em seguida vêm as Américas, onde ainda somos relativamente pequenos, mas onde podemos crescer bastante, especialmente na América do Norte, Brasil, Argentina e México. É onde temos as maiores operações do HSBC Bank. A Europa é um mercado mais maduro.
Monday, November 07, 2005
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