Thursday, December 29, 2005

Fundo ISE do HSBC
Matéria publicada em 29/12/05 no Valor Econômico

HSBC cria fundo de ações atrelado ao ISE
Por Angelo Pavini De São Paulo

Antes de completar um mês da criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que leva em conta questões sócio-ambientais e de governança na seleção das empresas que o compõem, a HSBC Investments lança um fundo atrelado ao indicador. O HSBC Fundo de Investimento em Ações ISE começa a receber aplicações na segunda-feira e reproduzirá em sua carteira os papéis do índice. A aplicação mínima é de R$ 1 mil e a movimentação, de R$ 100. A taxa de administração será de 2,5% ao ano.
Este é o segundo fundo criado com base no ISE. O primeiro foi o BB Ações ISE, do Banco do Brasil, que acumula captação de R$ 1,845 milhão. Apenas dois outros bancos possuem fundos que levam em conta a sustentabilidade, o ABN Amro, com o Ethical, e o Itaú, com o Excelência Social.
O ISE foi criado no fim de novembro a partir de um acordo entre a Bolsa de Valores de São Paulo, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces) e o International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial (Bird). O índice começou a ser calculado no dia 1º de dezembro.
A idéia de criar um fundo de sustentabilidade já era antiga, diz Fernando Meibak de Oliveira, responsável pela HSBC Investments. Por isso, ele acompanhou atentamente a estruturação do ISE, até porque um dos principais gestores da HSBC Investments, Luiz Ribeiro, era do IFC e participou da elaboração do índice.
Meibak acredita que é importante oferecer esse tipo de fundo para os clientes e, por isso, o banco decidiu fazer no primeiro trimestre de 2006 vários eventos nas principais cidades do país em parceria com o GVces. "Queremos divulgar o conceito da sustentabilidade para investidores institucionais, do private bank e do varejo", diz. A proposta é aproveitar o período em que os investidores, especialmente os institucionais, estão revendo suas estratégias de aplicação para o ano. Meibak lembra que hoje a maioria desses investidores usa como referencial para os ganhos de suas carteiras os índices Ibovespa e o Índice Brasil (IBrX) 100 ou 50. "Primeiro temos de convencer os investidores da importância de usar o ISE como referencial também", explica.
Um dos problemas do ISE é que hoje, ele é muito concentrado no setor financeiro, admite Luiz Ribeiro. Mas ele lembra que é um efeito inevitável uma vez que o setor de serviços tem um impacto muito menor no meio ambiente do que o industrial, por exemplo. "Mas acredito que isso será minimizado no futuro, com o ISE ganhando força e mais empresas respondendo aos questionários da GVces para entrar no índice", afirma. Ele diz que a criação de mais fundos como o HSBC ISE e a procura dos investidores por esse tipo de aplicação vai incentivar a mudança. E lembra que, no exterior, o HSBC lançou dois fundos globais de sustentabilidade, o Global Equity SRI, com sede em Luxemburgo, e o Life Global SRI, para fundos de pensão, em Londres.
Ribeiro lembra que a sustentabilidade é observada pelo IFC na hora de conceder empréstimos para empresas, critério que vem sendo adotado também pelos bancos privados. Segundo ele, empresas que seguem os três pilares da sustentabilidade - respeito aos critérios sociais e ambientais, governança corporativa e baixo endividamento em relação à estrutura de capital - representam menor risco para o credor ou investidor e tendem a garantir o sucesso da empresa por um período mais longo.
Ribeiro diz ainda que, olhando o histórico de desempenho dos diversos índices e fundos internacionais, o que se vê é que não se consegue provar que os investimentos em sustentabilidade têm melhor desempenho que os demais. Mas também não têm performance menor. "Isso já é uma grande vantagem em fazer a opção pela sustentabilidade", diz Ribeiro.


Indicador supera Ibovespa
Daniele Camba De São Paulo

Às vésperas de completar um mês, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) revela que o investidor já valoriza as ações de empresas que praticam responsabilidade social e ambiental. Desde a sua estréia, no dia 1º de dezembro até o dia 27, o ISE acumula valorização de 4,73% frente 4,55% do Índice Bovespa.
Para os especialistas, muito mais que o desempenho de um mês, será no longo prazo que os índices que reúnem as empresas com boas práticas devem se destacar frente índices mais técnicos, como o Ibovespa, cujo critério de escolha é a liquidez das ações.
O comportamento de índices na linha do ISE e que já existem a mais tempo comprovam essa tese. O mais velho deles é o Índice de Governança Corporativa (IGC), composto pelas empresas que fazem parte dos Níveis 1, 2 e Novo Mercado de governança corporativa. Desde a sua criação, em junho de 2001, o IGC acumula rentabilidade de 267,20%, muito acima dos 129,52% do Ibovespa, até dia 27. "É isso que deve ocorrer com os índices seletivos frente aos técnicos", diz o especialista em sustentabilidade Roberto Gonzalez.
O Índice de Tag Along (Itag) - que reúne as empresas que oferecem aos minoritários o mesmo valor ou um percentual acima de 70% do que foi pago ao controlador em caso de troca de controle -, apesar de ser mais novo (começou em junho), também mostra essa superioridade. Desde a sua criação, o Itag acumula alta de 48,17% frente a 33,21% do Ibovespa, até dia 27.
Além da sustentabilidade, Gonzalez acredita que a grande participação de ações de bancos pode contribuir para o desempenho do ISE em 2006. Com o crescimento do consumo, os bancos devem dar continuidade ao processo de aumento de crédito.
Há empresas que estão em todos os índices de boas práticas. Das 28 companhias que compõem o ISE, apenas seis não estão em nenhum dos níveis de governança da Bovespa - Eletrobrás, Banco do Brasil, Copel, Cesp, Embraer e Copesul. Para o superintendente de operações da Bovespa, Ricardo Pinto Nogueira, isso não é coincidência. "O empresário que se compromete com sustentabilidade geralmente também está engajado em outros tipos de boas práticas."

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